sábado, 4 de novembro de 2023

"Investigações Filosóficas", 70 anos de sua publicação (parte I)

 A linguagem cotidiana é empregada para mostrar que é a própria linguagem cotidiana a base de sua filosofia. E nisso reside o caráter revolucionário de Investigações Filosóficas, que, após 70 anos de sua publicação, permanece importante e influente.

Há seminários e encontros que comemoram a data, grande parte comentários baseados em filósofos da área, especialmente na área da filosofia analítica.

Mas que tal reler e extrair da própria obra  a relevante contribuição de Wittgenstein? Escrita em parágrafos durante 16 anos, ela gira em torno do que ele chamou de "jogos de linguagem", diversos e com inúmeras aplicações. 

A questão das proposições, seu sentido e sua referência, central e crucial no Tractatus, foi revista, e diz ele no prefácio, à luz de Investigações Filosóficas


                  Aniversário de 50 anos de Investigações Filosóficas (alemão/inglês)

As situações por ele imaginadas são as de uso normal, milhares de casos, "imaginar uma linguagem significa imaginar uma forma de vida" (§ 19). Assim é possível desfazer confusões como a de que o nome não tem, como Frege propusera, aplicação lógica. O nome não é o batismo de um objeto, um processo especial chamado "referência". Os nomes são empregados na linguagem cotidiana, assim Wittgenstein rebate seu amigo Russell.

As proposições e sua verdade/falsidade não são o núcleo da linguagem, e as regras indicam direções para o uso, sempre em certas circunstâncias, adequadas para a compreensão. Dúvidas devem fazer sentido, assim como a exatidão, e analisar proposições e sua mágica relação com os fatos, de que deve haver uma ordem a priori no mundo, essas dificuldades apresentadas pelos filósofos devem ser dissolvidas por meio do uso normal. Lançar para fora os óculos da pura representação, e mostrar que usamos comparações. 

O uso de afirmações que apresentam tal ou tal situação serve como um tipo de medida, seu uso prático esclarece mal entendidos, e assim a linguagem não fica girando em falso. A exigência formal de valor de verdade faz sentido quando se usam expressões para saber do que se trata, acerca de quem, do quê, em que circunstâncias...

Aprendemos, seguimos regras, e do uso correto de frases, surge a compreensão, sendo ela própria fonte do uso correto. Aprendemos por meio de diferenças gramaticais em cada ato como entender, saber, ler, ler com atenção. A capacidade de aprendizado pode ser bem sucedida ou não, e a compreensão é igualmente uma  capacidade fonte de uso correto. As diferenças gramaticais são aprendidas, não se trata de puro processo mental. Uma máquina de leitura não é capaz de uma mudança de comportamento que a frase, "já sei ler", por exemplo, implica. Apenas nós o fazemos em circunstâncias normais de aprendizado.

Assim, para Wittgenstein experiências, vivências, familiaridade com processos como ler, adivinhar, resolver quebra-cabeças, em todos há uso de critérios, o domínio de técnicas. E isso implica em total renovação da filosofia, questões como a da identidade do ser, essencial para a metafísica, é tão somente um processo de justificação, acertar com as regularidades que pertencem às nossas formas de vida.

(continua na próxima postagem)


Nenhum comentário:

Postar um comentário