quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O que é metafísica para Heidegger?


A interrogação metafísica se dá pela pergunta sobre os fundamentos de todos os entes.A questão foi abordada por Heidegger na conferência de 1929 “Que é Metafísica?” e envolve a totalidade do problema e até aquele que questiona, quer dizer, o homem em sua situação existencial. Por exemplo, a própria situação de Heidegger como professor, e junto dele outros pesquisadores nas diversas áreas da ciência. Nessas condições, o que surge são os entes, quer dizer, aquilo que é pesquisado. Nunca surge o nada. Justamente, se o nada não aparece, é porque de certa forma precisou ser considerado.

O que leva à consideração metafísica do nada que conduz à experiência com a negação. Quando nos angustiamos, sentimos algo parecido com nada. Angústia de que? Do nada... “A angústia manifesta o nada”, diz Heidegger na obra mencionada acima. Quando passa a angústia, parece que foi por nada. Esse assédio do nada na angústia, permite compreender a famosa afirmação, o nada “nadifica”, quer dizer, só podemos captar os entes em si por meio do nada, isto é, do que eles não são. 
O homem, ser-aí no mundo, existe como que suspenso no nada, e essa suspensão dentro do nada permite transcender tudo o que há, o ente em sua totalidade. Assim, pode-se abarcar esse todo, os limites, negar, e nesse dizer não, ser livre. Ser livre é dizer não, e isso difere da mera proibição. O nada nos conduz como que a um abismo, o de nossa radical finitude.

Em tempo de pensamento pós--metafísico, Heidegger retorna à Metafísica e lhe dá outro sentido: “Metafísica é o perguntar além do ente para recuperá-lo enquanto tal, em sua totalidade, para a compreensão” (1979, p. 43). Difere de outras metafísicas, como a da filosofia cristã, a criação do mundo a partir do nada. Ora, Deus eterno e absoluto exclui totalmente o nada, quer dizer, o absoluto é incompatível com o nada. Esse impasse é superado por Heidegger com a pergunta, de onde vem a negação? Da essência mesma do homem, seus questionamentos o põem em contato com o ente, suspenso no nada. 

Nossa própria essência, enquanto ser-aí em situação, é indagar, e indagar é fazer metafísica. Existir é já estar posto dentro da metafísica, de onde brota a mais essencial das questões: “Por que há o ente e não antes o nada?"

Cada um de nós pode ensaiar sua resposta...

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

O que é pensamento?

Quais são os sinônimos na língua portuguesa para "pensamento"?
Raciocínio, mente, ideia, abstração, reflexão, inteligência, alma, espírito, e outros que o leitor pode acrescentar.
Interessante observar que termos como "cérebro" não são sinônimos em muitos contextos, como o médico/biológico, por se referirem a algo físico. Pensamento são apreendidos, cérebros nunca...
Outra observação: sem o cérebro não se pode pensar, é claro!
Então surge um problema, como algo físico produz algo mental?!
Essa dificuldade levou a maioria dos filósofos a distinguir radicalmente o corpo físico do pensamento impalpável, abstrato, portanto, incorpóreo. A relação corpo/alma vem de Platão, passa pela filosofia medieval, sofre algum abalo com o empirismo inglês, é reforçada por Descartes, se sofistica com Kant e se transforma com os filósofos que adotaram a hipótese da linguagem como decifração para a oposição material/mental.
Se a linguagem possibilita pensar, o cérebro com suas regiões e suas sinapses é condição necessária. 
Mas então o que ou melhor, como pensamos? 
Certos animais reagem, aprendem e memorizam. Mas não falam...
Assim, o tipo de pensamento exclusivamente humano vem de algo mais complexo, a capacidade de significação, quer dizer, de usar signos, símbolos, grafismos, imagens, códigos (braile, por exemplo).
"Eu penso" é uma expressão verbal, com significado e com ela alguém quer dizer algo em certo contexto e situação.  Ao escrever esta página eu penso, raciocino, uso a memória, meus conhecimentos com o propósito de expor algo a alguém, que eu possa ser compreendida. 
Calados pensamos, sonhamos, nos preocupamos, desejamos, criamos, duvidamos, chegamos a conclusões. Todas essas atividades são fruto de cérebro, linguagem, aprendizado, situações pessoais, ambiente, e a miríade de circunstâncias que nos fazem ser alguém.
Comparemos o artista escrevendo sua obra prima com alguém que sofre sob efeito de drogas, álcool, miserabilidade, escravo, dependente, sem possibilidade de reagir.
A que circunstância um e outro respondem?
Comparemos um bebê com suas reações a estímulos e seu rápido aprendizado com a velhice ao ser sugada pelo Alzeimer. Chegaremos à conclusão de que somos constituídos por essas e muitas outras condições. Assim deixaremos de lado a divisão platônica corpo/alma e veremos os seres humanos em sua diversidade e complexidade.