Habermas entende que as sociedades modernas se compõe de duas faces, uma formada e dirigida pela ação comunicativa e a outra formada e dirigida pela ação estratégica.
A ação comunicativa é a que sustenta o mundo da vida, o qual por sua vez se forma com o tripé: sociedade propriamente dita, cultura e personalidade. A ação estratégica sustenta o sistema, formado pelas relações econômicas que visam objetivos de ganho, de sucesso, a lida com ocorrências, o controle da natureza. São ações que em geral não requerem interação subjetiva.
Na ação comunicativa os atos de fala, a interação social, a possibilidade de validar o que se afirma, de sustentar valores, de respeito, ética, educação, cultura são permeados pela linguagem, pelos processos de entendimento, pelo diálogo argumentativo.
A modernidade se caracteriza pela progressiva "invasão" dos sistemas econômicos no mundo da vida. Os meios de comunicação se valem cada vez menos da ação mediada pela linguagem, a sociedade sofre um processo de instrumentalização que penetra a vida pessoal, a educação, os valores, a cultura e a ética.
Nas sociedades modernas a comunicação fica crivada de mensagens da propaganda, com o uso massivo da capacidade de influenciar, de inventar verdades, de falsificar, de deslegitimar, de uso abusivo do poder em todas as esferas. Daí o titulo desta postagem, a sociedade esfacelada.
A distinção entre a ação validável, o saber compartilhado, os ordenamentos de valor, a formação da personalidade entraram no jogo do poder político e do poder econômico. Evidente que estes são parte necessária e fundante da sociedade. O problema, segundo Habermas, com o qual eu concordo, é que o mundo da vida (sociedade, cultura e personalidade) foi colonizado, foi cooptado pelo sistema político e econômico.
A modernização implica a expansão dos processos econômicos e administrativos, mas o que assistimos é a expansão e por vezes o aniquilamento da crítica, da fundamentação e busca de razões, do lema kantiano do esclarecimento, da responsabilização. O resultado é o uso do direito para coagir, a ética é neutralizada, quem se mostra mais e melhor nas redes sociais se impõe e impõe prestígio, e tudo e todos são vendáveis.
Esse é o quadro triste e caótico das eleições presidenciais de 2022, um Brasil polarizado, amedrontado, ameaçado de um lado e de outro. Na balança o voto que se mostre o mais responsável possível.
Creio que a sociedade brasileira irá resistir às chantagens, às mistificações, às palavras de ordem da esquerda exacerbada e da direita desfocada.