segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Hobbes, um pensador para a atualidade

 Thomas Hobbes (1588-1679), um dos principais representantes da Filosofia Política, contribuiu com noções e propostas que nos fazem pensar sobre a condição humana em sociedade.

Contra a corrente de sua época, a das lutas liberais e em prol do poder do parlamento, Hobbes defendeu o poder soberano, um poder que nada tinha de divino e sim de útil. Eis aí sua marca e sua originalidade.

Poder temporal, conhecimento com base na realidade empírica, importância da linguagem, apoio na natureza material do homem e de seus interesses, o recurso será sempre o de um método que emprega provas, que se detém nas causas e efeitos e que analisa a condição humana como naturalmente egoísta.

Ao ressaltar o papel da linguagem, põe em lugar do pensamento abstrato que é o núcleo do conhecimento para os racionalistas (Descartes), os nomes que são convencionais e conectados pelo verbo ser.

As necessidades e impulsos naturais conduzem o comportamento humano, que, por isso mesmo, precisa ser "domado" e isso só pode se dar por um governo forte, o poder soberano é o único capaz de submeter a todos e fazer com que contratos sejam respeitados e que se mantenha a paz na sociedade.

Os impulsos são conhecidos pelos nomes de coragem, esperança, amor, medo, curiosidade, típicas paixões que conduzem os interesses e invenções humanas. Por exemplo, as religiões nascem do medo de poderes invisíveis frutos da imaginação conduzidos por discursos aceitos publicamente, e os discursos que ficam à sombra são as superstições.

Impulsos de um lado e de outro saber usar sua força, beleza, capacidade de atos nobres, que não são poderes com valor em si, pois que reforçam os poderes naturais. Belo, forte e nobre valem mais do que fraco, feio e subalterno. Interessante observar como em nossos dias as pessoas se valem desses recursos, produzem e correm atrás deles custe o que custar para aparecer, influenciar, chamar a atenção. Basta pensar nas redes sociais e suas tramas na sociedade atual... Hobbes, muito antes de Freud, enxergava a natureza humana em suas condições as mais primárias, aquelas que precisam ser satisfeitas.

Saímos do estado de natureza pela necessidade de submeter a força, o instinto, as lutas, voluntariamente, por um poder que a todos submete e assim preserva a paz. Essa noção do Leviatã que serve para a preservar a vida em sociedade passou a ser condenada pelos ideais de poder consensual, legitimado por parlamento, eleições livres, enfim, os princípios democráticos. Mas, basta uma olhada na história dos últimos séculos, para concluir que violência, poder ditatorial, submissão à vontade de um soberano, em lugar de trazer a paz e o respeito a tratados, manipula, fere, impõe a ideologia do único pensar, fome, pobreza e dizimação resultam desse poder despótico: 

Hobbes às avessas na Alemanha de Hitler, na URSS de Stálin, na China de Mao, na Coreia do Norte de Kim Jong-un, na Venezuela de Maduro, na Cuba de Fidel, nas ditaduras violentas da África subsaariana. 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O compromisso da ética do discurso de Habermas em meio às fake news

Quando os comandos da vida cotidiana se pautam por interesses, pelos poderes social, político e econômico, pela luta para sobreviver, pelas exigências em torno ao cuidado com saúde em tempos de pandemia, o que fica relegado a segundo plano são as questões éticas.

A meu ver a ética do discurso de Habermas tem muito a oferecer para o atual momento: "Ela não dita regras, mas filtra pelo discurso aquilo que será acatado por todos e legitimado pelo diálogo aberto à participação de todos aqueles que se sentem responsáveis diante de problemas prementes que a sociedade enfrenta. O desafio é conciliar as condições de correção normativa que são idealizadoras - na medida em que almejam o que se considera como melhor, como válido, justo e aceitável - com as condições de objetivas de aplicação que em geral são difíceis de obter. Vive-se em uma sociedade mundial, com graves injustiças sociais, problemas ambientais, violência urbana, falhas na educação" (ARAÚJO, "Apel e Habermas: a ética do discurso in: Ética em Movimento, Paulus: 2009), e, eu acrescentaria, pobreza, doenças, a epidemia do Covid19, a informação rápida, as redes sociais, as falsas notícias.

                                                        

                                                                  Filósofo alemão - 1929---            

Como se pode constatar, são muitos os problemas e invocar a ética do discurso é o mesmo que apelar para a responsabilidade do que se diz, da chamada razão comunicativa. Ela tem um pé em Kant, com os pilares da autonomia da vontade em seguir a obrigação moral que diz respeito a todos; e outro pé nos atos de fala, no uso da fala visando acordo, entendimento e isso se alcança pela relação com o relação mundo objetivo de situações constatáveis, com o mundo social que nos insta a atos que comprometem a todos, uns com os outros, e ao mundo pessoal, o de cada um com suas circunstâncias, intenções, o engajamento sincero, o empenho com seus compromissos.

Difícil? Sim! Necessário? Sim!

E o maior obstáculo para esse tipo de engajamento e responsabilização é justamente o meio de comunicação diluído, impessoal e, muitas vezes prejudicial. A postagem de selfies vale mais do que buscar informação constatável e confiável. Vale tudo nas redes sociais.

Se o discurso é o meio e o fim do compromisso moral, isso se deve a que ele deve ser filtrado pela responsabilidade, pelo engajamento com os três mundos acima mencionados, com o conhecimento calcado em abertura, possibilidade de confirmação e igualmente de falseamento, e isso tudo suscetível de passar pelo filtro de todos os envolvidos.

Julgamento imparcial e possibilidade de abrir as ações de fala para o diálogo, esse é o meio essencial para a comunicação e para a responsabilização, mas que se torna a cada dia mais desprezado, desgastado, e mesmo ridicularizado...

Entretanto, se a comunidade local e internacional conseguir atores cujas ações visem o entendimento, a inclusão por meio de educação universal e de qualidade, é sempre possível recuperar credibilidade. Basta para tal seguir princípios de veracidade, justificação, normatividade e sinceridade.

Vivemos a encruzilhada da manipulação travestida em verdade, e da verdade em meio à difícil missão de abrir-se, revelar-se, ser ajuizável e engajadora.