Linguagem e formas de vida são interligadas para Wittgenstein. A linguagem é aprendida, não é privada, e a mente resulta do aprendizado da linguagem imbricada com nossas formas de vida.
Importante entender que forma de vida não é um conceito sociológico. Em cada situação concreta da vida humana em todo tempo e lugar, há incontáveis usos da linguagem que são interpretados em conformidade com aquela determinada situação.
Faz sentido medir a circunferência de um girassol? Depende...Faz sentido medir o comprimento de uma mesa? Quando é o caso de medir algo ou não? Definir uma esfera e utilizar a forma esférica em um desenho são usos muito diferentes. Se não houvesse entendimento a respeito dos inumeráveis usos da linguagem, i. é, os jogos de linguagem, não haveria vida humana, a ação não se desenrolaria tendo em vista acordos ou desacordos, planos para o futuro, intenção, decisões, enfim, as ações humanas são inteiramente permeadas pela linguagem. Pode ser linguagem visual, a de gestos, a leitura de signos e símbolos, o ver uma imagem como pato ou lebre, como uma cunha para prender portas ou traços de um triângulo.
E aquilo que não faz sentido algum? Seria o não sentido algo como ver, como ler os traços de um Picasso, ou as tintas esparramadas de Pollock? Diferente do sentido e do deleite estético que a plasticidade de formas e cores de um Vermeer produz.
Outra situação: a compreensão que deve ser exata, sem interpretação de placas de trânsito. Compare com os usos dos atuais emojis. Como diz o poeta, e se faço chover com um ou dois riscos tenho um guarda chuvas.
São construções, invenções, infinitos recursos de nossas formas de vida, são comportamentos aprendidos.
É justamente essa postura filosófica horizontal de Wittgenstein, que Habermas critica. Se pensarmos na herança kantiana, essa redução a formas de vida permeadas e constituídas na e pela linguagem, é uma redução inaceitável do ponto de vista filosófico de busca pelas razões, pelas causas, pela unidade, pela formas puras, pelo a priori. Habermas considera que a redução ao uso, às atividades cotidianas representam um tipo de utilitarismo, pensamento e significado não passariam de atividades normais de nossas formas de vida.
Essa concepção de Wittgenstein de que é impossível pensar sem a linguagem inaugura a virada linguística e igualmente a virada pragmática e encontra ressonâncias em Rorty e no próprio Habermas. A diferença é que para Habermas, mesmo ele sendo adepto do chamado pensamento "pós-metafísico", a linguagem não pode ser destituída de validade intrínseca, quer dizer, há atos de fala compromissórios. Uma promessa difere de uma constatação, a primeira pode ter consequências até mesmo jurídicas, ao passo que uma constatação exige a prova de realidade.
Para Habermas os problemas e questões filosóficos não podem ser reduzidos às situações e circunstâncias do cotidiano, há a normatividade e a validade que estão num patamar indissolúvel.
Wittgenstein considera que ideal, exatidão, mistério, formas puras a priori são construções que fazem sentido para nós, para nossas formas de vida.
E para você, o que faz sentido?