quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O que é humanismo?

Amar a humanidade, valorizar o humano, entender que acima de tudo estão os homens, parece algo canhestro e fora de moda. Humanismo, mais um "ismo" vazio de significado?
A doutrina do cristianismo se baseia no humanismo, sem o qual Deus não faria sentido.
Ora, há filósofos ateus que também pleiteiam o humanismo, como o existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1980), mas o faz, justamente, para defender o existencialismo das críticas de pensadores católicos, que entenderam ser o ateísmo incompatível com o humanismo.
Antes de prosseguir, o que seria, afinal, "humanismo"?

Valorizar os homens como um todo, ou cada um em particular? (Refiro-me por "homens", nestes tempos em que gênero parece ser mais importante, a pertencermos ao que os filósofos chamam de "ser humano" e não animal ou coisa).
 "(...) humanismo, diz Heidegger (1889-1976), é isto: meditar e cuidar para que o homem seja humano e não des-humano, inumano, isto é, situado fora de sua essência." 
Humanismo?! 
E a essência do homem para os antigos reside em ser animal racional; para os cristãos reside em sua alma imortal, a salvação e o julgamento dela por Deus; para Marx a essência requer o processo social com os requisitos da alimentação, procriação, produção; para Sartre não há humanismo algum em cultuar a humanidade, como se fosse uma deusa,  caso do positivismo de A. Comte. Sartre recusa o humanismo abstrato e genérico, e defende "o universo da subjetividade humana", estamos em constante processo de transcender, de ir além, de superar a nós mesmos, na medida em que nossa subjetividade é absolutamente livre para decisões, os homens estão por assim dizer presos à sua própria liberdade, só fogem dela os covardes.

Voltando a Heidegger, para ele pensar exige a linguagem e uma casa, uma morada para a linguagem, a dos seres humanos. Estes existem sob o modo do cuidado.
Como todo humanismo precisa determinar o que seria a essência do homem, todo humanismo se baseia numa metafísica, quer dizer, numa visão geral que explica tudo, tanto as determinações, como as particularidades dos seres. Essa visão geral, metafísica, seria a de que o homem é um animal que se distingue de todos por poder pensar?
Não, a essência do homem, responde Heidegger, vem de sua existência no sentido de permanecer nela, de estar presente ao ser, de estar-aí, no tempo, e saber-se vivo no tempo e com o tempo.
E mais, é preciso que, no distender do tempo, de sua vida (e de sua morte) ele possa transformar o genérico humanismo, em um existir específico, que vê no homem o portador, o defensor do ser, da verdade do ser que a linguagem permite, exige e desdobra. A essência do homem é morar na linguagem, não como dono, mas como o cuidador da linguagem.

Neste sentido, nada de humanismo, refúgio fácil para abstrações, para justificar o pacifismo, o igualitarismo e outros "ismos" convenientes para os defensores do nacionalismo, do populismo, das generalizações.
Importa, isto sim, o inverso, especificar o ser que cada um constrói por meio de sua ação, sejam europeus, americanos, africanos, asiáticos, crianças, jovens, velhos, homens, mulheres, gays, pobres, ricos, entre tantas outras especificidades. Importa pleitear a autenticidade, fazer valer o seu caminho, estar aberto às determinações, responsabilizar-se pelas consequências de suas deliberações.
Abertura e não fechamento!