quarta-feira, 7 de junho de 2017

Sobre a verdade

Há um uso bastante corriqueiro de "verdade". Observem como se diz "na verdade" e com qual significado. Evidentemente não se trata de verdade testemunhal, nem no sentido filosófico (que abordamos em seguida) e sim de uma confirmação, de uma insistência para chamar a atenção, esclarecer melhor o que se quer dizer.
Não significa que a pessoa confessa, ou que declara que tem razão ou não, apenas uma pausa para expressar de forma mais adequada o que quer dizer.
Estamos aqui no nível do discurso cotidiano.

Em outro sentido, a verdade a ser descoberta, investigada, comprovada pertence a dois campos da cultura, o jurídico e o científico.
Sentido jurídico:
A palavra do investigado passa a valer em seu julgamento, busca-se provas sobre quem cometeu o delito, entram em cena advogado, procurador e peritos. Se há provas consistentes ou não, a verdade que surge depende de astúcia, argumentação, provas documentais, e outros recursos. Pode acontecer de não se chegar a nenhum resultado, a propalada verdade fica nas sombras, desejada e não alcançada, apesar de a pretensão ser atingi-la.

No campo científico:
Obtém-se verdade, sempre provisória, por meio de experimentação, testes, provas laboratoriais, cálculos, fórmulas, enfim, todo um aparato que depende do paradigma aceito e praticado pelos cientistas em certa época e em certo domínio do saber. O que não se sabe é tão vasto, que buscar a verdade, ou seja, o que realmente ocorre ou quais são os fatos em sua plena evidência, finalmente deixa a questão da  verdade como secundária e os resultados obtidos como o fundamental.

No sentido moral, como oposto ao de mentira, fingimento, hipocrisia. Já a pessoa veraz, é autêntica, confiável, justamente pessoas que estão cada vez mais raras.

No sentido filosófico:
Busca-se a essência da verdade, busca essa difícil, há posições antagônicas, o conceito depende do sistema ou da escola filosófica adotados. 
Para os realistas a verdade é fática, o que é percebido pelos sentidos realmente se dá na realidade. A verdade é a adequação entre o que uma proposição designa, e algo da coisa que é apresentado ou designado. "A grama é verde" é verdade se a grama é verde, um fato constatado.
Para os idealistas a verdade requer um aparato de tipo transcendental, como se fosse uma superposição ou um projetar que segue condições necessárias. Exemplo: "Todos os triângulos têm três lados" não requer comprovação, é algo necessário, obtido pelo puro entendimento.
Para os pragmatistas, verdade é uma questão prática, a situação, as avaliações, e o que deve ser levado em conta permitem obter verdade, aplicá-la e, principalmente, valem os resultados, o que eles favorecem ou não, e como funcionam para as tomadas de decisão. Por exemplo: "Alimentação saudável e exercícios garantem longevidade", supõe uma série de testes e avaliações de especialistas, todas eles suscetíveis de reconsideração. A verdade é falível.

Sempre que nosso modo de ser, nossos comportamentos se abrem para as coisas das quais dependemos, de alguma maneira pomos em rota nossa liberdade de ser isso ou aquilo, de fazer isso ou aquilo. Daí resultam possibilidades, decisões, e a própria incorreção ou erro se mostram.
Isso de tal modo que a verdade e a não-verdade andam juntas.
E mais, há o insondável, o incognoscível, o inatingível, e tais limites deslocam a verdade ou as verdades para a zona brumosa do que jamais saberemos.