domingo, 15 de julho de 2018

Filme Filosófico (II)

Um tanto quanto atrasada, vi esse filme de Margarethe von Trotta sobre um episódio marcante na vida de Hannah Arendt. O filme é de 2012, "Hannah Arendt, ideias que chocaram o mundo". 
O ano em que se deram os fatos foi 1961, julgamento de um notório criminoso nazista, Adolf Heichmann, realizado em Jerusalém. Arendt se refugiara em Nova York com o marido devido à perseguição nazista. Lembrar que era de origem judia e que fora amante em sua juventude de seu professor, ninguém mais nem menos do que Martin Heidegger! (ver postagem anterior).
Barbara Sukowa interpretando H. Arendt

Hannah Arendt 
Arendt decide ir ao julgamento, suas opiniões foram publicadas pela revista The New Yorker depois de muita polêmica interna.
E isso devido às ideias explosivas da filósofa que ficara impressionada com a defesa pessoal de Eichmann. O filme mostra passagens desse julgamento, Eichmann simplesmente diz que obedeceu ordens. Para por no trem da morte milhares de pessoas por ter recebido ordens superiores? Sim, responde ele.
E o que Hannah deduziu, sim esse é o termo apropriado para alcançar propósitos que vão além do que no julgamento e do que a opinião pública defendem: carrasco, um dos principais responsáveis pelo Holocausto obedecia ordens!
E mais, argumentou Arendt, havia judeus poderosos responsáveis pela perseguição ao seu próprio povo. E isso ninguém tem coragem de reconhecer...
E o que Arendt viu no nazista? Um sujeito comum, com expressões até tranquilas, que agiu por dever. "A banalidade do mal", pensou ela. Sim, matar, exterminar, era cumprir ordens. A maldade sem remorso. Isso não significava defender absolutamente os atos praticados, muito menos inocentar Adolf Eichmann. Ela queria entender como reconciliar a mediocridade chocante da ação com os feitos espantosos e cruéis
O público em geral, os diretores da revista, seus colegas filósofos (entre eles Hans Jonas) foram implacáveis em suas críticas. Até mesmo a universidade onde lecionava em Nova York iria destituí-la de sua cadeira. Hannah não se conformou com tanta incompreensão, reuniu seus alunos, e reafirmou sua tese filosófica da "banalidade do mal". Quer dizer, sem nenhum motivo justificável moral, política ou eticamente, dizima-se inocentes. Uma aluna pergunta se é por serem os judeus os que foram vitimados, Arendt responde que a bárbara ação é condenável por eles serem humanos
 E ela é aplaudida pelos alunos!
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Os casos de prática do mal, sem mais nem menos, "banal" se multiplicam. Leia o jornal, veja os noticiários: atropelamento em massa, bombas em mesquitas, alunos e professores mortos por atiradores por motivos .... banais. 
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Recado ao professor de Filosofia: impeça que seus alunos concluam baseados na opinião geral, sem exame crítico.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Filosofia Contemporânea (II)

Como dissemos na postagem anterior, destacam-se ainda na Filosofia Contemporânea o existencialismo e pensadores independentes.
O existencialismo, Sartre: a diferença entre o ser em si que são simplesmente as coisas e a existência humana como escolha, liberdade e ação consciente, saem do próprio nada que vem ao mundo por meio do homem e seus projetos. Isso leva à total responsabilidade, à angústia da plena liberdade da existência, sem Deus, lançada por acaso no mundo. Ignorar a liberdade e o engajamento pessoal diante das escolhas seria delegar ao outro o que cabe a mim somente. Eu que nada sou tenho que realizar o sentido de minha existência, devo decidir e me responsabilizar pelas decisões.
Heidegger: caracterizam o pensamento do filósofo o rigor, a crucial importância dos primeiros filósofos, a existência humana como ser-aí no tempo e tendo que se haver com a sua finitude, o ser-para-a-morte. Num segundo movimento, Heidegger dá uma guinada em direção ao Ser já não mais do homem e sim da força plena que se abre para o homem por meio da linguagem. E ainda o desvelar da verdade. Verdade com a qual teve que se haver devido ao seu comprometimento com o nazismo. Reconheceu que nazismo nada tinha a ver com a força vital do Ser.
Wittgenstein: hoje chamaríamos o filósofo de gênio multitarefas. Inventor, lógico, matemático, metafísico, antimetafísico, destaca-se pela originalidade de suas propostas, que foram como que arrancadas com esforço e exigências autoimpostas. Como solucionar a questão do sentido se precisamos da nossa linguagem para justamente obter sentido? Se precisamos de formas que a linguagem oferece, podemos utilizá-las como escada atirada fora ao final do processo? Ou a alternativa não seria permanecer com os usos diversos da linguagem ("jogos de linguagem") em situações absolutamente ordinárias de nossos modos de vida? Wittgenstein deu a si e à Filosofia essa última tarefa: não quebrar a cabeça com enigmas que nós mesmos colocamos, dissolver problemas filosóficos na vida cotidiana.
Foucault: quais foram e quais são os artifícios inventados por diferentes tipos de saber que resultaram nesse tipo de sujeito submetido a normas sem origem nobre, ontológica ou metafísica? Foram "saberes de pouca glória" e práticas que passam batido pelos filósofos. Para reconhecer seu papel, há que ir para a história, para a produção de recursos não os das grandes causas econômicas ou sociais, mas as invenções como circulação de mercadorias, tipos de penalidades, discursos médicos, asilo psiquiátrico, exame e enquadramento a fim de obter certo tipo de comportamento, efeitos do dizer verdadeiro. Enfim, fazer-nos entender do que somos afinal feitos e refeitos. E assim visualizar brechas de liberdade e de reinvenção de si.