segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A vida em dependência das telas

Na década de cinquenta as imagens eram apenas as impressas, em livros, revistas, murais, muito escassas.

Meu pai assinava O Cruzeiro e Manchete. Assim que as revistas semanais chegavam, havia uma disputa entre os irmãos mais velhos para ser o primeiro a folheá-las. As reportagens eram avidamente vistas, lidas e as fotos ficavam como que guardadas na memória visual. Algumas delas me vêm à mente até hoje.

No colégio descrevíamos as gravuras que ficavam dependuradas num tripé e iam sendo viradas, sempre uma surpresa: crianças brincando, cenas do dia a dia, e aprendíamos não só a descrever mas também interpretar.

Os livros de Português eram ilustrados, e é claro, as histórias infantis. 

Na cidade interiorana alguns cartazes nas lojas, nada de outdoors. Além disso, haviam fotografias de casamentos, festas, e isso com os fotógrafos locais (havia dois, Glück e Adelaide) ou com as famílias que dispunham de máquinas fotográficas. Os álbuns de família eram verdadeiras preciosidades...

Quanta diferença quando apareceu a TV, depois os recursos audiovisuais, as telas dos computadores, os vídeo games, e, finalmente, os celulares que multiplicaram a simples função de telefonar convertidas em mensagens e milhões de imagens. Imagens de absolutamente tudo o que pode ser  visto, gravado, compartilhado. Fascínio pela imagem, a ascensão ao patamar supremo de sua própria imagem, gesto, realizações, e tudo armazenado em álbuns virtuais.

Tenho dois netos de seis e de oito anos praticamente criados em meio a desenhos na TV, jogos, e agora aulas on-line. O seu próprio e crescimento é acompanhado por fotos e vídeos. Em casa é feito um rígido controle do tempo na TV. Não acontece o mesmo na maioria dos lares, o que se agravou com a pandemia.

Meu neto de onze meses jamais havia visto a TV ligada, até o pai não resistir a um jogo do Super Bowl. Incrível, indescritível o deslumbramento com o impacto da telona!

Enfim, modernidade tem disso: câmeras que, ao mesmo tempo podem salvar vidas, as vigiam o tempo todo o que permite um controle de quase tudo o que se faz. Aquele seu inocente e-mail é capturado pelo Grande Irmão Google, a privacidade perdeu sentido...

Se escrevo isso com saudosismo? Sim. Entretanto, impossível negar ou resistir a esses múltiplos meios, vale e muito ser criterioso e responsável, mesmo que isso seja difícil e menosprezado.