segunda-feira, 11 de abril de 2022

Por que e para quem vivemos?

 A questão do sentido da nossa existência é das mais cruciais e enigmáticas não só da filosofia, mas também das religiões e do próprio íntimo de cada pessoa.

Em uma redação da aula de português do longínquo ano de 1967, no Colégio Estadual do Paraná, citei uma frase de Sartre (alguém ainda se lembra dele?) sobre o vazio, o sem sentido, a sensação de náusea de um personagem: "Nascemos sem razão, nos prolongamos por fraqueza e morremos por encontro imprevisto". O professor que era católico fervoroso, excelente pessoa e mestre, ficou perplexo. Como assim? Uma garota de 17 anos descrente, cética? A vida tem sentido, nos preparamos por meio da fé para uma boa morte, para a vida eterna. Tudo o que fazemos é uma construção de nossa personalidade, do amor à família, da dedicação aos outros, da prática de virtudes, de realizações no trabalho, na comunidade e na sociedade.

Hoje tendo a concordar com parte dos argumentos de meu professor, e sei que a atitude filosófica que provoca a sensação de "néant", de nada, de sentimento abissal, aflora para muitos e por vezes predomina. Muitas vezes recebe diagnóstico como quase tudo em uma sociedade que, como na visão de Foucault seria "medicalizada" e na qual chamaríamos àquelas sensações de depressão.

Enfim, se a pergunta acima for feita a diferentes pessoas, de sexo e idade diversos, em camadas sociais e econômicas igualmente diversas, as respostas e os sentimentos irão variar. Pergunte a um ucraniano em seu país destroçado; pergunte a um doente terminal, a um morador de rua, a um ativista de direitos humanos, a políticos engajados, a políticos fraudadores, corruptos e teremos respostas surpreendentes ou não!

O papel da Filosofia é indagar sobre o geral, o universal, o duradouro, o conceitual. As particularidades e idiossincrasias são consideradas como pertencentes a um todo, o de nossa vida em geral. Mas se recuarmos até Platão, a questão não é sobre o sentido da existência e sim sobre o que nos leva a pensar, o conceito, as ideias, como definir, como delimitar a própria reflexão.

Se olharmos para um Descartes, o ego, o pensar, o logos são aquilo a que um filósofo pode chegar, em última análise. E assim, por diante, o filósofo abstrai, mas não pode extrapolar a condição humana.

 E para quem vivemos?

A vida faz sentido sempre que se considerar o outro, nossos pais, filhos, irmãos, amigos, os que nos são próximos, nossas fontes de alegria, também de tristeza, enfim, os relacionamentos que importam, pessoas queridas que iluminam nossos dias.

Que tal sair um pouco das redes sociais, da constante exposição e mesmo exibição de tantas particularidades e atos os mais corriqueiros e passarmos a olhar para dentro de nós, olhar diretamente para os que nos são caros?

E isso sem que este tipo de comunicação fique de lado, porém com um uso mais profícuo, que faça realmente sentido. 

                                                                *****

Hoje ninguém mais se senta em um banco de praça e estranha a raiz de uma árvore, com a sensação de náusea, como o personagem de Sartre no livro acima citado que traz esse mesmo nome, "Náusea". Náusea não passaria de uma indisposição de estômago... Ai de nós, pobres mortais!