quarta-feira, 11 de maio de 2016

Universalismo X Contextualismo

Tomemos dois filósofos contemporâneos, Habermas, para argumentar pró universalismo, e R. Rorty, para argumentar pró contextualismo.
O pano de fundo de ambos é a modernidade, entendida no sentido histórico de época em que há uma separação entre arte, religião e política, e em que a moral e o direito são exercidos com base em princípios e não na autoridade de um governante supremo. Na modernidade surgem as empresas capitalistas, há uma regulamentação do trabalho, em que passa a contar a produtividade. Cidades se expandem e o comércio se internacionaliza. A ciência progride, e a educação adota critérios formais, como: avaliações, séries, didática, conteúdos programáticos, democratização e universalização.
Habermas considera que não vivemos na pós-modernidade, pois o projeto emancipatório não se esgotou, a liberdade e a democracia ainda são a chave para superação da opressão.
(1929 -vivo e atuante)
Ele critica essa postura derrotista dos pós-modernos, sem cair no pressuposto iluminista de que a razão liberta, de que o sujeito é autor absoluto de seu destino. Essas filosofias do sujeito, ou da consciência, começam e terminam no ego. Ora, o sujeito voltado para si, fica impedido de agir, de sair de si, sua razão se fecha. O novo modelo para Habermas é o da intersubjetividade, que é social, ativa, participativa. Não é possível confiar ingenuamente na razão e nem desconfiar dela por se ver submetida a forças, ao poder.
A crítica da razão não se faz sem que sujeitos se defrontem, se confrontem, estabeleçam para si regras em que ganhem autonomia, apostar na irracionalidade ou na negação radical impede que a própria racionalidade faça a crítica do mito, dos jogos de poder, da ideologia. Que racionalidade é essa?
A da razão comunicativa, aberta pela linguagem em seus atos de fala que possibilitam atingir verdade e objetividade, sem prescindir de veracidade e autenticidade pessoal, juntamente com a prática de normas acordadas pela sociedade democrática.
(1931-2007)
Para Rorty, entrar em diálogo comunicativo com os critérios a que todos os partícipes atendem, ou seja, a validação dos resultados da ação comunicativa que visa entendimento, encontra sérios obstáculos. A sociedade atual é plural, há permanente conflito e discordância, impossível que haja um critério universal para justificar todos os embates sociais e culturais. Para Rorty, as práticas de justificação e validação de juízos de valor são locais, o horizonte linguístico de comunidades é seu contexto, e é nele e com ele que se fazem afirmações e se as justifica. A linguagem, com a cultura, as crenças e os valores aceitos bastam para atender ao critério de coerência de nossas afirmações.

Qual dos dois filósofos tem razão?
A pergunta está mal colocada, não há que dar razão a um ou a outro e sim mostrar o quanto as duas perspectivas satisfazem o saber, isto é, se com elas a Filosofia se enriquece e abre novos horizontes.
Habermas não nega a importância do contexto social e cultural em que a razão comunicativa se exerce, pois ela depende da ação, da busca cooperativa da verdade, de argumentos. E esses são extraídos localmente, mas sua validação exige que o seja para todos, a verdade pode ser contestada, se as condições para ela são satisfeitas ou não, mas dela não se prescinde. 
Se olharmos para o conturbado mundo atual, então Rorty fornece certas chaves para entender que diálogos situados, contextualizados que sirvam à justificação podem prescindir da verdade, o conceito de verdade é supérfluo, o mais importante é a tolerância, a liberalidade, o antidogmatismo.

Ambos contribuem para o enriquecimento da Filosofia. E mais, uma posição não anula necessariamente a outra, tanto Habermas quanto Rorty condenam a violência, o terror, a alienação pelas forças imperativas do poder político ditatorial e do mercado sempre que seus efeitos se agigantam e fogem do controle de normas e das garantias do direito em sociedades democráticas.