sábado, 31 de agosto de 2019

A metafísica para Heidegger

Em Ser e Tempo e especialmente em Introdução à Metafísica, Heidegger introduz conceitos que renovam a metafísica. Ele não pertence ao rol dos filósofos pós-metafísicos, quer dizer, pensadores como Foucault, Rorty e Habermas. 
Para estes não há sentido em perguntar pelo "por que", pelas causas finais ou por algum tipo de fundamento geral ou origem de todas as coisas. Tudo é humano, finito e já começado na História da humanidade. Somos homens e mulheres com determinações sociais, culturais e histórias. Sem linguagem impossível pensar, mudar, compreender. 
Heidegger não discordaria, somos seres imersos na história e com uma história, somos seres falantes e doadores de significado. Por quais razões não situá-lo entre os pós-metafísicos?
A metafísica culmina, segundo ele, em Nietzsche, o último metafísico. Se Nietzsche é o último, então Martin Heidegger não seria metafísico. A questão é, em que sentido?
Eterno retorno, vida, transvaloração de valores são o último suspiro da metafísica e ele, Heidegger pensa ser necessário recolocar a metafísica em outro patamar. Ele desce e se instala na História da Filosofia, num percurso que começa com os pré-socráticos, em especial Heráclito e Parmênides para retraçar o caminhar do Ser.
Mudança, permanência, ideia, essência, substância, acidente, ato e potência, infinito, cogito, fenômeno e noumenon, razão -, é possível reconhecer a qual sistema filosófico, de qual metafísico se trata.
E o que mostra essa história do Ser?
Para Heidegger nós somos os construtores dessa história, somos aqueles que abriram a clareira para o ente Ser isso ou aquilo, mais recentemente, fenômeno e existência.
O que para certas escolas filosóficas, caso do neopositivismo de Carnap é um palavreado sem sentido, como a frase de Heidegger "o nada nadifica", para o próprio são manifestações de nossa linguagem que abriga o ser, o ente que somos nós, finitos, falantes, determinados pela História e desenvolvedores de sentido. 
Qual o sentido que damos em nossa cultura e civilização?
A pergunta seria antes, qual sentido retiramos do Ser em nossa cultura e civilização?
Escondemos o ser no manto da técnica, civilização do esquecimento do ser, com uso amplo da técnica, inclusive para destruir a natureza.
Não que tenhamos que voltar a alguma pureza primitiva, e sim que os entes se tornaram coisas usáveis e nós, os pastores do ser, os doadores de sentido por meio da poesia, chegamos igualmente a esse nível, o da guerra nuclear, o da devastação, e se Heidegger testemunhasse o que acontece hoje, se visse uma cidade com trânsito engarrafado e perigo em cada esquina, diria, para onde foi o cuidado, os homens se comunicam apenas por palavrório, cadê a autenticidade?
A montanha virou obstáculo a ser vencido com túneis, os que nela sobem são os que querem conquistar o topo, pagam para isso.
Nossa metafísica, a da proteção do ser, seria aquela em que nós entes humanos, os seres-para-a-morte, galgassem os cumes para contemplar, para abrigar pela palavra o Ser.