O tema do momento é o do título, o pensar livre, ou, como nos debates atuais, a "liberdade de expressão". Há algum tempo atrás dava para abordar o tema de forma leve e irônica com a frase de Millôr Fernandes: "Livre pensar é só pensar".
Entre pensar e expressar vai uma enorme distância que apenas o uso da linguagem transpõe. E esse uso varia conforme o lugar, público ou privado; a situação, que acarrete ou não consequências e responsabilização; o meio, redes sociais ou canais jurídicos.
Num bar entre amigos, você pode dizer o que bem entende? Evidente que não! No espaço de lazer e prazer, também há limites, por exemplo, a ofensa, a calúnia, a ambiguidade, ou o inverso, a deslavada bajulação, o fingimento. E tudo pode acabar em tapinhas nas costas ou brigas...
O mesmo ocorre nos grupos familiares. Convívio, amizade, troca de experiências, afeto que podem desandar a depender de uma questão mal resolvida, de segredos que vêm à tona.
O momento político e social trouxe para o campo jurídico a decisão do que é livre pensar, do que é liberdade de expressão. No centro disso, as redes sociais e as notícias fabricadas com explícita intenção de prejudicar, de atingir a honra, de manipular fatos, de tecer intrigas, de deixar no ar suspeitas, de forjar acontecimentos.
E para onde essa rede de mentiras pretende levar, o que ela dissemina, o que ela cria? A aceitação sem verificar fontes de uma parcela enorme do público, as redes criam verdade, produzem guerra de informação e contra informação, vale tudo.
A consequência mais polêmica foram as sucessivas tomadas de decisão por parte dos tribunais superiores, que se deram a missão de punir os disseminadores de notícias falsas, e de roldão punir conforme o que os próprios juízes decidem que seja prejudicial ou inverídico no tocante às eleições presidenciais deste ano. Isso é chamado de "arbítrio".
Certa ou não, uma decisão judicial tem o mérito ou demérito implícito. Cumpra-se.
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Acho que há um outro lado, digamos, filosófico e ético. Refletir, lado filosófico; o reto agir, lado ético.
Do lado filosófico, o livre pensar só é possível por meio da linguagem. Então, é limitado por ela. Basta uma simples observação: "O que você quis dizer com isso?" É a linguagem usada para esclarecer a própria linguagem. E a resposta é um ato de fala, que esclarece, que compromete, que possibilita o diálogo.
Por isso mesmo a linguagem, ao responsabilizar o dito e aquele que diz, entra no terreno ético. "Eu afirmo tal ou tal coisa, sim, e me comprometo com a veracidade do que eu estou dizendo".
Ora, nenhum destes aspectos, o do dizer verdadeiro e autêntico, o do dizer responsável e comprometido valem no território político e dos influenciadores, nem nas decisões supostamente corretas de cortes de justiça.
Como ficamos, então? Mal, muito mal, tanto pelas notícias fabricadas como pelo seu controle pelos meios jurídicos.