terça-feira, 26 de março de 2019

O que é signo?

Bem conhecido é o ditado: "Uma imagem vale mais do que mil palavras".
Quem atentar para o dito acima, de pronto verificará que foram precisos alguns signos para transmitir a mensagem. Millôr Fernandes, com seu humor inteligente observou: "Experimente dizer isso sem palavras".
Outro dia um cartaz em uma floricultura dizia: "Flores dizem tudo o que você precisa expressar". Mais uma mensagem, construída não com imagens, fotos, ícones, ou flores e sim com signos linguísticos.
Devemos a Saussure uma das concepções mais apropriadas de signo. Eles se compõem de significantes orais, os sons, o que ouvimos a cada palavra ou frase, e de significados, o que conseguimos entender. Para explicar o significado, precisamos de outros signos, por sua vez necessariamente compostos com grafismos, que formam as palavras com seu significado. 
Assim, se alguém ouve um palavra cujo significado a pessoa desconhece, só captará o signo completo quando souber o que a palavra significa, o que se quer dizer com aqueles puros sons. A sucessão de fonemas se torna então signo completo apenas quando o som se liga por convenção de certa língua com o significado. 
Os signos são estruturados de acordo com o que Saussure chamou de "língua", isto é, o sistema de regras que rege toda e qualquer fala de certo idioma.
Sem os signos e as regras sistemáticas, o pensamento seria uma massa desprovida de forma. O sistema da língua permite que o pensamento se articule, se expresse, desde os primeiros sons da criança, até as obras literárias.
Os signos têm valor, quer dizer, podem ser trocados na comunicação linguística. Sempre que alguém explica melhor o que quis dizer, ocorrem essas trocas. A característica da linguagem que usamos na comunicação, é essa capacidade de usar regras e apenas as regras de uma língua, que foram todas elas aprendidas e internalizadas sem que o usuário precisasse de "aulas de Português".
A performance linguística decorre imediatamente do sistema gramatical dominado pelo falante. Ninguém diz em português "livro o compra" e sim "compra o livro". E isso porque no ato de aprender a língua, as regras gramaticais estruturam toda e qualquer emissão. 
Seria impossível nos comunicarmos sem esse sistema que regra toda e qualquer fala. Não há como inventar uma gramática, isto é, um sistema linguístico. 
E a gramática aprendida nas escolas? Ela é necessária para o desempenho social da língua, é um acréscimo, um auxiliar importante para o domínio da fala e da escrita. Portanto, nada a ver o argumento de alguns linguistas de que todo e qualquer falar vale, que a língua culta é elitista. Neste sentido, precisamos sim de "aulas de Português"

quarta-feira, 13 de março de 2019

Olavo de Carvalho, sob o manto da erudição a Filosofia é erodida.

Incomodada com os rumos do Ministério da Educação sob o comando de um assecla de Olavo de Carvalho, resolvi ler algo sobre sua escola filosófica. Tomei por base o ótimo e sério artigo de Martim Vasques da Cunha, publicado na "Gazeta do Povo".
Pude observar que o dito filósofo, é mais um guru que domina seus asseclas sem que seu pensamento represente uma contraposição confiável e bem construída ao esquerdismo. Ambos são extremistas, ao invés de convidarem ao pensar crítico e independente, emitem juízos para apoiar sua posição político-filosófica.
No caso de Olavo de Carvalho, o convencimento e a arrogância o levam a se proclamar único, professor universitário algum teria chance de debater com ele. E pior é que tem razão, pois muitos professores de Filosofia adotam um só filósofo ou uma só doutrina filosófica o que lhes veda o olhar para a História da Filosofia. Mas não é nisso que esse julgamento de O.C. se baseia e sim no seu autoproclamado conhecimento filosófico e literário.
O.C. pretende recuperar o verdadeiro sentido do ser. Que tal ficarmos com Heidegger para essa empreitada? Segundo O.C. Heidegger falhou porque almejou ao sistema total. Errado, Heidegger inseriu o seu próprio pensamento na história do ser.
O.C. diz que se deve ficar com a tensão entre unidade e multiplicidade, mas isso não tem nada de original. Sua "dialética simbólica" que superaria Hegel se baseia em um "modelo celeste", círculos entrelaçados de céus, Platão, inteligência divina, a Filosofia teria que ter uma "disciplina da alma".
Há uma mistura entre filosofia e misticismo, o Espírito faria a síntese. Esse "céu" de O.C. nada fica a dever ao céu redentor do proletariado, as massas operárias no paraíso...
Esse desejo de poder místico explica em parte que seus asseclas sofram um processo de convencimento e não de reflexão independente, de crítica, de uso de conceitos e noções próprios a esse debate inteligente de ideias de que a Filosofia deve se nutrir.
O.C. sofre de delírio de grandeza. Apregoa que ser inteligente é admitir a verdade. Mas qual verdade, como entender esse conceito?
Propõe criar "uma elite intelectual treinada para perceber a verdade" (!)
E o pior é não admitir o contraditório!
Por essas e outras razões é que os seus asseclas atualmente ocupando cargos no Ministério da Educação se vêm às voltas com a necessidade de lidar com dificuldades gritantes que os sistemas de ensino enfrentam em nosso país, em todos os níveis. E não conseguem dar um rumo confiável e necessário ao ensino.
O.C. e cia limitada não representam uma alternativa à doutrinação esquerdista. Trata-se de uma opção tão ideologizante e perigosa quanto à dos marxistas/leninistas/gramscianos.
É preciso urgente recuperar a razão, em todos os sentidos da expressão.