terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O homem como inventor de signos

É bem provável que na evolução da humanidade, a tomada de consciência de si tenha surgido juntamente com a linguagem. Sons com significado para alertar perigos, para indicar onde havia alimento, para encontrar abrigo, e demais necessidades em comum com os animais a princípio, e que foram se modificando na e com a espécie humana.
Ações se tornam conscientes e assim podem ser comunicadas, para comunicar é preciso sinais e esses sinais devem ser compreensíveis pelo bando.
Assim, nossa consciência não é espírito, ou alma, ou mente entendida como propriedade intangível, imaterial e absolutamente pessoal.
Nossa consciência é, antes, resultado de operações necessárias à vida em grupo. Desse modo ela funciona, tem utilidade, no momento em que desaparece ou se atenua, isso se deve ao sono, a alguma droga, ou mesmo doença que afeta de algum modo nosso cérebro.
Como no mesmo processo de sobrevivência alguns se destacam, a ele são atribuídas qualidades que o grupo não possui.
A concepção de Platão de que os homens possuem almas hierarquizadas, é paradigmática. As almas correspondem respectivamente a inferior, às sensações; a que está no peito à coragem, à fortaleza; a superior, corresponde à razão, ao discernimento. Escravos precisam da alma sensitiva, guerreiros da coragem, governantes, da razão.
Para o cristianismo há uma só alma e ela é universal, todos a possuem, imortal e sujeita ao pecado e às tentações do corpo. Cabe à alma dominar o corpo. Algo semelhante à noção platônica de que o corpo é a prisão da alma. Liberta deste, a alma encontra tudo o que a ela ontologicamente corresponde, o imortal, o nobre, qualidades em comum com a pura ideia.
Essa radical separação corpo/espírito (alma) está entranhada na cultura humana, tanto a ocidental como a oriental.
Os assim chamados materialistas, seriam apenas um punhado de pessoas descrentes e que não teriam, nem com a mais refinada ciência, como explicar a mente, a consciência de si, a capacidade de pensar.
Se filósofos como Wittgenstein ou como Dewey, para citar apenas dois entre muitos pensadores, entendem que mente, pensamento, raciocínio, reflexão, subjetividade, introspecção são atividades aprendidas e não puro espírito pensante, o argumento que contra eles se levanta é:
Como então são possíveis os pensamentos abstratos, pessoais e indevassáveis?
Talvez aqueles filósofos replicassem:
Como você sabe disso, pratica isso e comunica isso, ainda que seja a si mesmo em uma ilha deserta?
A resposta talvez esteja no título desta postagem...