sábado, 23 de maio de 2020

O que é ideia?

Poderíamos dizer que ideia é a marca, a essência, a característica inerente aos seres humanos.
No filme "Ad Astra", um astronauta obcecado por encontrar vida inteligente em algum ponto do universo, permanece sozinho em uma estação espacial em Saturno. Sua missão falha, e o filho astronauta teria que trazê-lo de volta à Terra, mas não o convence. Ele consola o pai argumentando que afinal nós somos a vida inteligente no universo conhecido.
Ora, o filme envolve uma ideia, uma dúvida, o pai era possuído por uma única ideia, o filho é incumbido de um projeto, em todo projeto há uma ideia.
Algum extra-terrestre teria ideias? A ideia de buscar vida inteligente? Por quais razões?!

A ideia de desvendar mistérios do cosmo e de si mesmo

Os primeiros traços de humanidade provavelmente surgiram ao solucionar problemas, e isso não se faz com atos simplesmente. Os atos precisam de ideias.
As grandes ideias da humanidade produziram efeitos decisivos e permanentes. 
A ideia de que há um Deus ou deuses levou à noção do além do homem, divindades podem premiar, castigar, requerem sacrifícios, templos, a noção de pecado e redenção. Na implantação de religiões houve paradoxalmente imposição e violência.

Com as ideias de mente, de consciência, de espírito/alma, de cogito, de razão, surgiram grandes nomes da Filosofia Ocidental.
Exemplos: considerar a ideia superior ao corpo, o inefável oposto ao material, ao carnal, que somos feitos de corpo e alma, que o mais interior, nosso cogito, nos assegura sermos alguém que pensa, portanto existe. Que a razão produz ideias, quer dizer, conceitos, formas puras que filtram o pensar, e, consequentemente, o agir.

Jordan Peterson resume a essencial importância da ideia de ideia, com o Logos no qual os cristãos transformaram o "Eu", esse Logos gera a palavra que ordena o Ser, até a noção moderna de consciência e pensamento.
O eu, o si produziu horrores (nazismo, estalinismo), a contrapartida, o bem, é a própria capacidade do Logos de sair de si, decidir, de responder desde os primevos de nossa história, às demandas do que o cerca. Se não o fizer, morre. Produzimos ideias, conferimos essas ideias com as de outros, com o próprio mundo. 
O criador de ideias que indicam ação, liberdade, nobreza, este pode prosseguir, ao passo que o erro não pode. Uma dessas ideias de sucesso é a de ter fé, acreditar faz parte do próprio processo de pensar.
Freud e Jung viram isso, o campo de batalha das ideias, elas conduzem, elas visam algo, uma ideia é motivadora. Já os fatos, estão aí simplesmente. As ideias, em contraposição, são condutoras, por elas se luta, e se preciso for, até a morte.

Convido o leitor a fazer a seguinte experiência:
Quais foram e quais são as ideias que me moveram e que me movem?

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O que é a atitude filosófica?

Trata-se de atitude perante a vida, e, por consequência, perante a morte.
A atitude filosófica não diz respeito a estilos de vida semelhantes aos da lista abaixo:
- Conformistas: baixam a cabeça e preferem seguir normas e regras prontas, sem discussão; o chefe, o pastor, o líder político são obedecidos, basta pertencer a um rebanho e com ele marchar, de preferência repetindo palavras de ordem.
- Interesseiros: seu lema é aproveitar ao máximo, sugar seja o que for, seja de quem for. Vale bajular, vale postar sua imagem, de sua família e amigos, todos prontos em atender requisitos de sobrevivência social e econômica. Fingir, ocultar, escamotear sempre que isso for útil a sua sobrevivência.
- Revolucionários: se revestem com a crença de que sua bandeira, seu lema, seu líder político, seu partido devem não só vencer como dominar  os inimigos, ou seja, todos os adeptos de outras vertentes ideológicas ou doutrinárias. A tática é a do convencimento.
- Gênios iluminados: trazem a ciência e a especialização como único caminho, verdade é a prova científica, os laboratórios são como que templos, fora deles reina a ignorância. Eles teriam sempre razão, gráficos, tabelas, demonstrações filtram todo tipo de ação e pensamento.

Esses são estilos de vida que centram seus valores em atitudes unilaterais. Ora, não há um único modo de ver e enfrentar questões e problemas.
A atitude filosófica requer abertura, amplos horizontes, uma visão do todo, questionar. O que não significa ficar o tempo todo com dúvidas e com um pé atrás, nem cético e nem dogmático.
E isso se consegue com conteúdo, com leitura, com informação de fontes fidedignas, com a firmeza de caráter, de que não há resposta para tudo, mas que, ainda assim, vale perguntar. Mas perguntar com embasamento, e para isso não é preciso ter estudado um ou mais filósofos.
A atitude filosófica é calma, sábia sem ostentação, ouve argumentos, usa argumentos e mostra conclusões possíveis.
A forma dessa argumentação é o diálogo, o estranhamento diante do mistério, entender que não sabemos tudo, que a arrogância do que diz tudo saber deve ser combatida com a humildade do que é possível e devido saber.
Subimos escadas do conhecimento, da ética, dos valores, sem a pretensão de que essas escaladas terão um fim. A não ser o fim de cada um de nós, a morte em nosso horizonte.