terça-feira, 31 de março de 2015

Foucault não é da esquerda marxista!

Socialismo, comunismo, esquerda marxista, nenhum desses rótulos, ideologias ou concepção política cabem no pensamento e no ideário de Foucault.
O comunismo, com Stálin, matou mais do que Hitler no auge da eliminação de judeus e outros povos pelo chamado nacional socialismo, leia-se nazismo. E intelectuais que se prezam não podem ignorar a miséria do comunismo, o autoritarismo, a violência, a irracionalidade e inaplicabilidade de seus "princípios".
Considerar que Foucault é de esquerda, é impingir a ele um credo na transformação revolucionária por meio do poder do proletariado, ou hoje em dia, pelo poder dos trabalhadores, dos sindicatos, e no Brasil, do PT, do PCdoB, do MST. Estes são sectários, acham que o capitalismo é o sistema responsável pela pobreza, que os bancos especialmente os internacionais e os conglomerados industriais e financeiros devem ser eliminados, e nunca, nunca esse tipo de bandeira foi levantado por Foucault.
Foucault estudou a história da loucura, das ciências humanas, das prisões, da sexualidade; analisou o modo como aos poucos foi se constituindo um tipo de poder apaziguador, para governar e manter sob obediência populações, torná-la governável, portanto é preciso controlar desvios, desmandos, anormalidades. O Estado e sua conservação, dependem de governar populações, gerir a vida, a saúde, o comércio, e isso repercute no comportamento, no condicionamento de práticas, inclusive a "produção de verdade" e de nossa subjetividade.
O marxismo concebe a história como luta de classes, Foucault não. Nem passa pela sua cabeça a dialética da contradição social e econômica, condição de uma futura revolução social. 
Sua fontes de inspiração são Nietzsche, o estruturalismo francês, Canguilhem (historiador da biologia), os poetas malditos, como G. Bataille. Evidentemente conhecia a literatura marxista, mas dizia que Marx teve seu mérito em propostas e críticas para o capitalismo do século 19, e fora desse século "era como peixe fora d'água".
O capitalismo sofreu várias transformações, a riqueza tem se concentrado, bancos investem no próprio sistema, há muita pobreza, miséria, doenças, sofrimento, mas impossível eliminar trabalho, investimento, produção, circulação de riqueza e de bens, relações comerciais internacionais, e os diversos fatores da economia nacional e mundial. Regras e legislação existem, nem sempre são respeitadas.
Os poucos exemplos de países comunistas, com concentração do poder no Estado, foram violentos. Na antiga URSS houve morte, exílio, perseguição política e banimento da liberdade de credo, de pensamento, de crítica. Idem na China de Mao, e esta teve que se reinventar para que bilhões não morressem de fome.
E que dizer de Cuba, da Coreia do Norte? A pretensa igualdade produz déficits de todo tipo, humano, social, econômico. 
Se você preza sua liberdade de ir e vir, de pensar, de ser isso ou aquilo, de criar, de produzir, de instruir, de inovar, fique longe do comunismo/socialismo/marxismo.
Assista o vídeo do MST destruindo pesquisas científicas em nome da agricultura familiar. E o PT apoiando, aplaudindo, ao mesmo tempo em que precisa dar conta do mundo real...
Ah, Foucault daria boas risadas!

segunda-feira, 9 de março de 2015

O poder da reflexão filosófica

O mais conhecido símbolo da reflexão filosófica é a estátua de Rodin, "O Pensador". Dobrado sobre si, mão no queixo, ensimesmado, voltado para si, para seus pensamentos.

Mas, se a reflexão se limitasse às atitudes acima, a filosofia não teria produzido tantos pensadores com suas obras geniais, que merecem atenção cuidadosa, estudo, e que são, sobretudo, um convite à reflexão. Como então se caracteriza a reflexão se não é apenas pelo voltar-se para si?
A filosofia deve e pode levar a perguntas, ao questionamento, ela conduz à raiz, à busca de fundamentação, e assim produz admiração, abre os olhos e a cabeça para nossa situação no mundo, na sociedade, na história, na cultura, em nossa vida. 
Para chegar a esses efeitos, é preciso o que se poderia chamar de material de trabalho filosófico: ideias, noções, conceitos, propostas, indagações feitas pelos filósofos, mas não só por eles. Historiadores, artistas, escritores, jornalistas contribuem com material para a reflexão. A diferença está no grau de elaboração do material, enquanto os filósofos levam as questões a um nível mais geral, à abstração, às fundamentações, um artista, um cientista, um historiador, um escritor (e outros mais...), recolhem material mais concreto, documentos, situações do cotidiano, pesquisam, investigam. Eles precisam quantificar, construir com dados da realidade empírica para chegar a resultados, a feitos e fatos.
Isso não significa, como dito acima, que a reflexão filosófica seja feita nas nuvens, que o filósofo, ao abstrair, esteja longe das questões e problemas da realidade social, cultural, do avanço científico, dos acontecimentos locais, nacionais e mundiais.

De onde a filosofia extrai o conceito de justo, de belo, de bom? E o de verdade? Qual a motivação ou inspiração do filósofo para compreender o sentido da existência humana, de seus valores, das exigências de justiça, de melhoria da condição humana?
Justamente, das situações, acontecimentos, batalhas, contradições, sentimentos, buscas, indignação, aprovação, realizações, e de tudo o que nos constitui. A reflexão nos conduz a perguntar se isso tudo faz sentido ou se tudo isso é absurdo, se podemos conhecer os limites de todos os seres, ou não temos como saber o que nos limita. Os conceitos de ser e nada são abstrações? De que afinal se alimenta a filosofia?

Um exemplo de reflexão filosófica seria uma questão interessante e provocadora como esta:
Quem levaria mais a fundo a reflexão filosófica, Dostoiévski em "Crime e Castigo" ou Wittgenstein no "Tractatus Logico-Philosophicus"?
Sofrimento, liberdade, valores, justiça, punição, consciência moral, dilemas éticos, a produção literária de Dostoiévski dá a pensar.

Lógica, fatos gerais que constituem o mundo, limites do pensamento e da linguagem, a estrutura do mundo, como obter sentido para Wittgenstein, e isso pela análise filosófica.

Em comum: produzir, criar, levar a reflexão sobre nossas condições ao limite do possível, ilustrado pela tragédia (crime/morte) ou pela busca da forma lógico-gramatical, arcabouço último do sentido, lado a lado com o que é inexprimível (divino/inefável).

Em suma:
Refletir requer analisar, reunir pensamentos, dispor deles em certa ordem, concluir com sínteses renovadoras, dar razões, exigir rigor no raciocínio, e ser verdadeiro em seus propósitos.
Impossível sem honestidade e curiosidade intelectuais.