sábado, 22 de fevereiro de 2014

Os pseudo herois do momento no Brasil

Deixando de lado vantagens e recursos que o Brasil tem (esperemos que não se esgotem, que sejam respeitados e cultivados com cuidado e responsabilidade), ao que parece nos encontramos como que emparedados por dificuldades.
Explico: o desemprego se situa em nível abaixo da média, porém o descontentamento está muito acima da média. Razões não faltam, recomeço da inflação, corrupção na política, ceticismo com relação à classe dirigente, sofrimento de grande parte da população com violência (no trânsito, nas estradas, nas ruas, ao chegar em sua própria casa!), prisões abarrotadas sem solução à vista, uma presidente (a) autoritária que ao mesmo tempo depende de seu tutor e mentor, deputados que só pensam na próxima eleição. E recentemente, o temor de sair para protestar e ser ferido ou morto por idiotas mascarados, que, agora sabemos, são paus mandados. A morte do cinegrafista Santiago custou R$ 300,00, somadas as quantias pagas aos dois rapazes!
Considerar que queimar bancos e lojas de automóveis acabará com o capitalismo é ignorância, irresponsabilidade e reles imitação de outros movimentos semelhantes que nada conseguiram, a não ser disseminar medo.
Vejamos, historicamente e socialmente falando, algumas questões sobre o capitalismo.
Empresas e indústrias surgiram do nada com o objetivo de semear desigualdade, injustiça, fome, pobreza?
Multinacionais norte-americanas e europeias são intrinsecamente más e prejudiciais à humanidade?
Há que se abolir todos os bancos, bancos oficiais inclusive, como o Banco do Brasil? E também empresas como a Petrobras?
Ao tempo dos reinados e impérios, desde os egípcios até Napoleão, o reino britânico, belga, czares russos não havia exploração e desigualdade, despotismo, miséria? Apenas no capitalismo começou a luta de classes?
Estas e muitas outras questões não passam pela cabeça fechada pela ideologia que impregna muitos de nossos herois intelectuais, sociólogos, filósofos, historiadores, enfim, os chamados intelectuais de esquerda.
Eles ainda querem "tomar o poder"? Pois bem, o PT, comprometido com a ética na política, com o plano de acabar com miséria, a desigualdade e a pobreza frutos do capitalismo (mas a favor, como diz o nome do partido, dos trabalhadores) e inspirado pelo socialismo de vertente cubana, hoje visa somente poder. O poder político, cargos federais, ministérios, todo o funcionalismo e as benesses que cargos proporcionam. Nem qualidade e nem o compromisso com a causa pública são invocados. Só interessa permanecer no poder. Para isso vale trazer o empresariado que também se beneficiará com contratos para realizar grandes obras, pelas quais recebem fortunas em troca de que? 
Pouco ou quase nada. Com a máquina pública deteriorada, nossos dirigentes começam, por debaixo dos panos, a  reconhecer que privatizar é a saída. Claro que sem usar o termo que outrora demonizaram, "privatizações do PSDB"... 
Demonizar o capitalismo, em que pesem seus defeitos e problemas, crises e desemprego, é descer sobre estudantes e jovens, uma cortina de fumaça, pegajosa, perigosa, até mesmo covarde.

Aos pseudo herois do momento, Genoíno, Dirceu e companhia, ao deputado que cerrou o punho levantado, vieram juntar-se intelectuais. Entre eles, destaque para Caetano Veloso vestindo máscara dos black blocs. Ele revelou um lado seu, é um mascarado mesmo, no outro sentido do termo. Uma bela voz em uma cabeça carcomida.

Não esqueçamos: o Brasil é uma democracia, é preciso fortalecer o regime democrático, especialmente em ano eleitoral. Escolher os mais dignos, creiam, eles existem.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Em que sentido espírito e/ou alma existem?

Quem leu a postagem anterior, talvez tenha concluído que seria impossível falar de alma e espírito, se eles não existissem. Faz sentido atribuir qualidades como imortalidade, espiritualidade, invisibilidade, capacidade de pensar, de isolar-se no íntimo de seu eu, sem que haja tais entes, quer dizer, algo em si ao qual podem ser atribuídas a existência, a subsistência, a temporalidade, e outras categorias?

É preciso levar em conta duas possibilidades:
A primeira possibilidade, considerar que a resposta à pergunta "o que existe?" é: entidades com a capacidade ontológica de ser, de existir ou de subsistir são uma resposta evidente e imediata a essa pergunta. Espírito/alma existem, mas não do mesmo modo que uma mesa existe, que corpos de um modo geral existem. A natureza dessa existência seria a espiritual, incorpórea. Prova disso: somos seres pensantes, nosso espírito subsiste nas ideias, imaginação, vida interior, pensamento. Difere do corpo, portanto, também difere do cérebro e de suas complexas engrenagens. Descartes defendeu essa visão dualista do homem.

A segunda possibilidade: o sentido ontológico de alma/espírito é atribuível a facetas, a características da cultura humana, às ações, às situações desde as mais corriqueiras, até os ritos mais secretos, às celebrações mais solenes. Exemplos de atos de fala com emprego contextual compreensível e que não levantam problemas ontológicos, isto é, perguntas sobre se se trata de espírito "mesmo" e como é sua natureza, imaterial, pessoal, imortal, etc.
"Pedro é uma pessoa boa, tem um espírito conciliador"
"O Espírito dos povos evolui e se aperfeiçoa"
"Pobres almas inocentes dessas crianças que morreram nos bombardeios da Síria"
"Um raio de luz me transpassa a alma: não é à multidão que Zaratustra deve falar, mas a companheiros!" (Nietzsche).
"Espíritos elevados constroem um mundo melhor".
E inúmeros empregos dos termos, como "parece uma alma penada" sobre o aspecto lúgubre de alguém; "espírito de corpo", para corporativismo, e "espírito de porco" em um xingamento; e tantas outras de nosso uso diário, por vezes na poesia, na literatura, nos ditos populares.

Assim, há os que creem na alma como uma entidade pelo menos subsistente cuja natureza difere radicalmente da corpórea, e aqueles que partem de outro pressuposto, o da vida humana inserida em uma cultura, com seus signos, linguagem, atos de fala, jogos de linguagem, símbolos. Estes últimos não precisam elucubrar, apenas ver o que e como ocorrem as situações em que faz perfeitamente sentido se expressar com termos que se referem às capacidades de pensar, refletir, falar, dar sentido ao mundo, comunicar, decifrar, inventar, imaginar, e tantas outras. 

Como resolver a seguinte questão, para os adeptos da primeira possibilidade. Sentir prazer ou dor é corporal ou espiritual? A dor física e a dor moral, a dor de uma perda, em que diferem? Valores morais pertencem ao corpo ou ao espírito? 
Ou essa outra, para os adeptos da segunda possibilidade: depressão (doença inventada/diagnosticada pela psiquiatria) é física, cerebral, mental, espiritual, cultural, genética, inclassificável em um só gênero? 
E mais essa: por que faz muito mais sentido dizer "força de vontade" do que "força de espírito"?

Quero dizer uma coisa aos que menosprezam o corpo: desprezam aquilo a que devem sua estima. Quem criou a estima e o desprezo, o valor e a vontade? O próprio ser criador criou sua estima e seu desprezo, criou sua alegria e sua dor. O corpo criador criou para si mesmo o espírito como procedência de sua vontade  (Nietzsche, Assim Falou Zaratustra).