sábado, 27 de agosto de 2016

A fabricação de imagens nas redes sociais

Até Sísifo se sentiria mal com a avalanche de imagens de si próprio nas redes sociais.
Postar o que se faz, o beijinho, a comidinha sendo preparada, o sorriso, o muxoxo, as idas e vindas, lugar para onde a pessoa foi, onde está, o que está fazendo, a incansável e medíocre informação acerca de ninharias.
Todos precisam saber o que está acontecendo com todos, o tempo todo!
Fiz isso, fiz aquilo e publico, publico, publico...
Qual o real interesse? Exposição, publicidade, gracinhas, selfies até não mais poder, isso parece que satisfaz desejos e prazeres, que são momentâneos pois em seguida vem o esquecimento.
O anonimato, a impessoalidade, a discrição e a modéstia são substituídos pela exposição permanente, pelos egos, pelo exibicionismo, pelo enaltecimento de si.

Impossível condenar ou rejeitar o papel importantíssimo das redes sociais como informação relevante, como facilitação da comunicação, como meio de integração e de valores, entre eles a amizade.

Mas na maioria das postagens não é disso que se trata, e sim satisfazer a curiosidade, tratar do lugar comum como se fosse de grande importância, o que a pessoa é pouco importa, vale muito mais sua aparência para os outros.
A diferença entre ser e parecer se vê diante de um abismo!

Sem apelar para velhas dicotomias como a de que ser vale mais do que parecer, pois para a filosofia essa diferença é bastante problemática, entretanto, a contraposição entre um e outro ganha um novo patamar nas constantes atualizações nas redes sociais de tudo o que se fez, nada escapa, a privacidade deve e pode ser invadida.
A veracidade e a verossimilhança são dispensáveis.

***
Um exercício de imaginação: será que filósofos como Kant, Wittgenstein ou até mesmo Foucault usariam desses recursos? 
Kant almoçando? Wittgenstein postando fotos de sua cabana na Noruega? Foucault pesquisando nas bibliotecas?

Talvez eles indagassem: Qual o real valor das informações? A avalanche de imagens preenche o vazio existencial?

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Saber ganhar, saber perder

Há algumas lições a serem relembradas por ocasião das olimpíadas no Brasil, especialmente com relação às virtudes clássicas que Aristóteles listou em sua ética.
Entre elas a da coragem, coragem moral e coragem física. Quando o atleta persiste em seus treinos, e se ele tem vontade, determinação e capacidade para isso, quer vencer. Ele sabe que o risco é também perder.
Estes esportes e jogos remetem à Grécia Clássica, homens jovens (parece que as mulheres só começaram a "existir" no século XX) eram educados por meio de exercícios físicos, capacidade de lutar, e também intelectualmente. "Os deuses não concederam aos homens nenhuma das coisas belas e boas sem fadiga e estudos (...); se desejares ter um corpo forte, deves habituá-lo a obedecer à mente e exercitá-lo com fadigas e suores" (Xenofonte, Memorabilia).
Esses sábios conselhos resumem o modo como ginastas, esportistas e atletas agem, o grau de exigência de si, sua luta para superar dificuldades.
Um dos pontos fortes do modo grego de ser, de sua prática cotidiana, de sua ética, era o domínio de si mesmo, tão importante quanto a moderação, o meio termo.
E para obter o domínio de si, fundamental é a educação do jovem, a experiência com os revezes, com as dificuldades, a fim de se fortalecer. Nada disso vale sem a profunda reflexão, como perguntar: "o que eu penso, o que eu desejo, o que eu posso conseguir?"

Além do domínio sobre si mesmo, a outra virtude necessária ao atleta e sua educação/formação, é a coragem. Não entendida como bravata, como enaltecimento, e sim como o meio termo entre o medo e a confiança excessiva. A coragem, segundo Aristóteles em Ética a Nicômaco, é uma disposição do caráter, ela é nobre e nobre sua finalidade, distinta tanto do medo dos covardes, quanto do bravo que diz nada temer. Isso porque o corajoso enfrenta, suporta, se esforça mesmo diante de golpes dolorosos. Praticar a virtude da coragem é difícil, altamente compensado com o fim conquistado, e Aristóteles cita como exemplo os soldados e o atletas.
Tão importante quanto as virtudes do caráter, são as virtudes intelectuais, como a sabedoria e a compreensão, ou seja, saber avaliar e julgar. Se estas últimas virtudes acompanharem o atleta, tanto maior será seu valor. 

E hoje? Há pouca reflexão sobre o real valor da competição nos esportes e no atletismo. A cultura de um povo parece ora incentivar, ora relegar a segundo plano vencer em jogos e esportes.
Ao lado de tradição, se juntam incentivo e capacitação técnica, cada vez mais aprimorada.
Isso sem falar das políticas públicas, no Brasil praticamente inexistentes...

Quem sabe ganhar tem noção exata da medida de seus esforços e de sua capacidade.
Saber ganhar
Os que não sabem perder desconhecem a capacidade do(s) outro(s) e ignoram seus próprios limites.
Saber perder

PS: a torcida que vaia não se comporta como público educado para assistir e incentivar, vibrar e saber calar. Comporta-se como turba, como multidão ululante e ignorante.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Escola é para ensinar e aprender, nem com partido e nem sem partido

Há décadas os alunos que se formam nos cursos de licenciatura, em especial Pedagogia, Sociologia e História, devem se adequar a uma linha de pesquisa, a do marxismo, a da dialética, a gramsciana. 
Seus trabalhos, dissertações e teses seguem as noções de que a história é a dos oprimidos, que desde os gregos e romanos há uma divisão de classes sociais, e que o capitalismo é intrinsecamente prejudicial, deve ser substituído pelo socialismo, que os povos indígenas e os pobres representam a salvação da sociedade, que a exploração capitalista é a mãe de todos os males, que as lutas devem se pautar pelo banimento do capital, do investimento estrangeiro, que o FMI e a política norte-americana impedem que a pobreza seja erradicada, que a propriedade privada seja distribuída, que a escola seja o lugar dos ensinamentos de Paulo Freire.
Essa linha dura da esquerda se confronta com outra linha dura, a da direita. Ela prega o inverso: que igualdade nunca será alcançada, que as diferenças entre classes sociais são desprezíveis, que o indivíduo está acima das classes. Seu princípio é o do conservadorismo: Deus, pátria, família.

Ora, educar por uma ou outra dessas tendência não é educar, é influenciar segundo uma doutrina, um tipo de pensamento que evita o confronto com a história, com os acontecimentos, com as ideias. Impede o argumento, a liberdade que o professor deve exigir para si, a cabeça arejada, livre das amarras doutrinárias sejam elas a de que produzir é explorar, ou a de que basta empreender, investir, lucrar a qualquer preço.
Estudos sérios da história, da sociedade e da economia nacional e a história das sociedades como um todo, são raros, é preciso que novas gerações façam um esforço nesse sentido, E como? Por meio da pesquisa de fontes, checando a idoneidade delas, pelo estudo sério e comprometido com o aprendizado, e sempre com liberdade para criticar, para apontar eventuais erros, e, principalmente entender que não há a verdade.
O que move a história dos povos e nações não é exclusivamente o interesse econômico, nem os valores sacramentados da cultura branca, europeia, elitista.
O poder não tem dono, seja um partido político, sejam as classes superiores que impõem valores como se fossem intocáveis.
Somos povo, somos povos, somos diversos, nosso bem maior é a autonomia, a capacidade de decidir de acordo com princípios que passaram pelo crivo das leis, dos direitos, da liberdade de expressar ideias e valores, da discussão pública dos mesmos.
O descrito acima requer democracia, espaço público de discussão, a qual depende de informação, de conteúdo sério, de livre comunicação, de investimento na educação. A função primordial das escolas é formar pessoas aptas e educadas, e não gado a ser conduzido. Que os professores precisam vir capacitados a lidar com crianças, adolescentes e jovens, os quais não são rebanho a ser conduzido cegamente por uma ideologia ou doutrina. Que é preciso informar, capacitar, exercitar o poder de agir, de elucidar, de entender que em toda sociedade há fatores econômicos (trabalho, capital, investimento, produção), fatores sociais (educação, regras de convivência, possibilidade de ascensão social, liberdade de pensamento), fatores políticos (partidos, leis, direito, governo, a harmonia e o respeito entre os três poderes).
Professores não devem se submeter à bibliografia de seu orientador (linha de pesquisa de orientação marxista/gramsciana), nem devem ser submetidos a regras de conduta obrigatórias penduradas em sua sala de aula (proposta do movimento "escola sem partido").