sexta-feira, 10 de maio de 2024

Quando refletir é essencial

 Ser mais reflexivo, é o meio eficaz para não se deixar levar por notícias falsas, ou que contenham desinformação.

Diz um estudo de Amanda Ruggeri (ver no site da BBC), que é possível por meio de novas ideias e soluções baseadas em evidências, a pessoa se tornar um pensador mais crítico, mais sensível, mais sábio e mais aberto.

As pseudo informações que em geral se acolhem, são aquelas que sustentam as crenças prévias da própria pessoa, é mais fácil, é mais cômodo simplesmente aceitar justamente aquilo que se tem como certo de acordo com suas convicções e pontos de vista. Mais difícil e incômodo seria certificar-se acerca da veracidade das postagens que são compartilhadas. Desse modo evita-se marcar com "likes" tudo o que convier ou combinar com suas ideias, conceitos, ideologias, tudo o que está bem guardado na sua própria gaveta mental. Que vai ficando cheia, pois não há a menor preocupação em averiguar minimamente as fontes da "informação".  Se foi alguém famoso, com milhares de seguidores que reportou isso ou aquilo, basta para confiar. A fama carrega a mensagem. Ponto.

Isso acontece em momentos de catástrofes, de guerra, de grandes mobilizações. E especialmente, quando líderes guiam sua manada em oposição à outra manada guiada por outro líder. Decisões políticas cruciais são tomadas com o propósito de ganhar adesão, a fundamentação para tal ou inexiste ou segue a tendência que favorece seus mentores e seus asseclas.

"É assim que eu penso", "essa é minha posição", "nem quero olhar para o outro lado", "dane-se, eu não tenho nada que ver com isso": modos de expressão da cegueira para a informação e as evidências. Lamentável. 

Assim seguem, lendo somente certo jornal, acessando somente certo canal de notícias, formas de assegurar-se de suas crenças e ideologias por meio de notícias filtradas conforme o interesse e a política do site, do influenciador, do canal, da rede social.

É mais fácil ser assim acomodado, como alertou Kant (século 18), instalar-se na minoridade, ser menor no sentido ético, social e político, ou ainda seguir o rebanho, a horda, como apontou Nietzsche. 

Há que ser reflexivo, perguntar quais são as razões para apoiar ou criticar mensagens, posições políticas, notícias. Há que averiguar, conferir, confirmar ou rejeitar, denunciar. Há que parar, dar um tempo na célere velocidade com que se passa pelas redes. 

Pare e pense, quem criou o post? A informação está ou não contextualizada?

Mika Caulfield sugere que se vá ou "Google Fact Check", um dos meios de fazer o feitiço virar contra o feiticeiro. 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Por que a verdade não mais importa?

 "Verdade" pode ser tomada sob vários aspectos: verdade prometida; dizer sempre a verdade; fidelidade; verdade comprovada nas teorias e experimentos da ciência; verdade contemplada pela fé; verdade construída por argumentos; verdade formal dos cálculos matemáticos; verdade resultado de investigação.

Quais são os requisitos para que os tipos de verdade acima se  realizem?

Por meio da confiança em certa pessoa, por meio de experimentos e comprovação, por meio da crença indubitável, por meio do interrogatório, por meio da exatidão matemática.

As consequências são positivas para amizades e relacionamentos, para usos de medicamentos, para a força da fé, para o estabelecimento de culpa ou inocência, para que construções de modo geral sejam seguras. Essas seriam, em tese, nossas relações com a verdade.

De um lado esses relacionamentos com a verdade e de outro lado o engano, a infidelidade, a mentira, falhas nas experimentações, o pré-julgamento, o erro nos cálculos.

A que se deve, na prática, tantos desvios, enganações, provas forjadas, o vale tudo, ganhar a qualquer custo, passar a perna e achar isso engraçado, desprezar regras mínimas de civilidade, aceitar suborno, usar de prerrogativas para mandar, reprimir, favorecer uns e prejudicar outros?

A que se deve tudo isso? Uns dirão, é próprio da natureza humana, outros dirão desconsolados, é preciso entrar no jogo para não ser passado pra trás. Outros agem sob a pressão de punições, não por dever de cidadão, de pessoas de bem. 

Agir de acordo com sua própria consciência, não deveria ser assim?!

Quando o que mais vale é postar o que se fez, o que não se fez, o que se vai fazer, e quando posar importa mais do que ser alguém com uma vida, com responsabilidades, com projetos, é a mistificação que prevalece.




Mito, mitificação, mistificação, batalhar pelo seu ego, a completa falta de compostura, isso tudo que tempos atrás não era público, agora vem à tona, é patente, é evidente. E mais, só vale se ficar em evidência. Evidência que pouco dura, pois essas aparições são súbitas, passageiras. Amanhã tem mais.

Assim, a verdade prometida, o engajamento, a fidelidade, a comprovação, a justificação, esses meios de firmar compromissos ficam cada vez mais à margem.

Restam as verdades que foram comprovadas pela experiência, pelos cálculos, pela investigação metódica. Mas esse tipo de verdade não diz respeito à nossa consciência. O avanço técnico produziu conforto, velocidade, mas não vidas mais autênticas e realizadas.