terça-feira, 25 de junho de 2013

Clamor da ruas no Brasil

Não poderia deixar de apoiar as corajosas manifestações de rua destas últimas semanas. Junho de 2013 é um marco. Muito já se disse e com propriedade por jornalistas e pelo público em geral. Chegou a vez dos governantes. 

Mas o pacote de Dilma não passa de engodo, de tentativa de defesa ao se ver acuada, sua popularidade descendo, o risco de não se reeleger.
Manifestantes voltarão para suas casas, seus locais de estudo ou trabalho, e não deixarão de se conectar, de prestar atenção aos próximos acontecimentos e de responder com novas manifestações.

A pergunta que não quer calar:
Se a presidente tem maioria ampla no Congresso, por que as necessárias reformas não saem nunca?
Porque o próprio governo criou um esquema do toma lá, dá cá. Interesses eleitoreiros se sobrepõem às necessidades do povo brasileiro.

Por medo do clamor, um pequeno grupo de estrategistas do governo se reuniu em busca de uma fórmula, mais uma, de enganar, de ganhar tempo e de apostar no arrefecimento dos ânimos. A fórmula, mais uma vez, é um pacote de intenções que silencia sobre o modo como serão aplicadas e se de fato significam melhoria para as condições de vida dos brasileiros.
Exemplo: aplicar royalties da exploração do petróleo para a educação. A qualidade do ensino não melhora automaticamente com mais verba. É preciso saber como e no que aplicar. A formação de professores comprometidos com a educação não é algo que se mede com mais computadores, construção de salas de aula, laboratórios, bibliotecas, transporte escolar entre outras medidas com visibilidade.
Formar professores e tornar a escola proveitosa e interessante leva tempo e requer compromisso, disposição, mudança. O aluno no ensino médio se desinteressa por conteúdos com fórmulas e mais fórmulas! Elas servem para que? 
Não há professores suficientes para atuar nas disciplinas de Física, Química e Matemática. Sem uma revisão crítica na qual se deve dar atenção ao sentido e ao papel dessas disciplinas tanto na vida escolar como no futuro profissional dos jovens, o abandono da sala de aula só aumentará. E esse é só um dos problemas da escola e da educação no Brasil.
E o mesmo acontece com cada uma das medidas do pacote anunciado ontem, dia 24 de junho. 
A governante fez vista grossa, Lula foi participante do esquema do mensalão e agora os mesmos vêm a público com cara de inocentes!

Restam instrumentos da democracia para derrotar governos corruptos, incompetentes e exploradores da boa vontade dos brasileiros.
As eleições de 2014 se aproximam, é preciso escolher bem!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As críticas do ceticismo e do pragmatismo ao idealismo

Quantos "ismos"! Em filosofia é assim mesmo, as oposições teóricas decorrem de princípios, de fundamentos e de conceitos.
Tanto o ceticismo antigo, moderado ou radical, como o ceticismo moderno partem do princípio de que as dúvidas do sujeito e as aparências e instabilidade dos objetos impossibilitam certificar-se de que o conhecimento leve à verdade e que a realidade assegure tal verdade e certeza. A realidade pode confundir, as situações mudam constantemente, e nossa compreensão e acesso ao que nos cerca varia de pessoa a pessoa, de lugar a lugar e, hoje diríamos, de cultura a cultura.
O fundamento do cético é o de que não há fundamento algum, e esse paradoxo não pode ser resolvido, pois seria preciso sair do estado de dúvida e assim estabelecer um fundamento e isso é impossível. O ceticismo quanto a ideias puras e conceitos a priori decorre da própria experiência que mostra sempre novas facetas, que crenças antigas são reveladas falsas, que há mudanças e evolução na ciência, nos valores, nas representações sociais. "Por experiência, diz Montaigne, se sabe que a multiplicidade de interpretações dissipa e quebra a verdade", nunca se julgará a mesma coisa de modo análogo e não há duas opiniões semelhantes sequer na mesma pessoa, completa esse pensador cético em Ensaios (1571). 
Michel de Montaigne (1533-1592)
O conceito de conjectura e o de dúvida permeiam o pensamento cético, podemos conjecturar, mas nunca saber nada com certeza. Esse enunciado faz sentido: se tivéssemos tanta certeza por meio de sensações e de ideias, veríamos o mundo como os primeiros cosmólogos o viram e o interpretaram...

O ponto de partida do pragmatismo, escola norte-americana que tem em W. James e J. Dewey seus principais representantes (século XX), é a ação humana transformadora. A verdade precisa ter serventia, uma utilidade, um uso. O princípio de causalidade que para Kant é uma das bases do conhecimento, para o pragmatismo não passa de um modo de lidar com as coisas, de experimentar e de poder empregar nosso conhecimento. Ideal e real não são categorias puras, são recursos inteligentes para transformar a natureza, para construir não mundos platônicos ideais e superiores, que transcendem e são inalcançáveis. Construções ideais são projetos que podem melhorar a vida, mas que precisam ser factíveis. Que os homens possam nelas habitar. 
Os conceitos do pragmatismo são os de ação e reconstrução. A possibilidade de reconstruir, de refazer fica em aberto dando a chance permanente para a mudança. Esta não segue a direção da história idealizada por Hegel, por exemplo, pois os caminhos se multiplicam e podem ser mudados de acordo com as necessidades de um povo, de um país. Como? pode ser por meio de uma constituição, da eleição de bons governantes, mas o meio principal para Dewey é a educação em aliança com a democracia.
John Dewey (1859-1952)
Finalmente, a crítica do materialismo ao idealismo. Princípio: não há espírito nem divino e nem de um povo, há matéria produzida pelo trabalho humano. Conceito principal: conhecimento se baseia em dados coletados  pelas ciências (história, antropologia, física, economia). O fundamento teórico é de que teoria e prática se completam. Conhecer para transformar é seu moto, ele parece com o do pragmatismo, mas seu viés é político e ideológico. A meta é a revolução do proletariado, a conquista do trabalhador do produto de seu trabalho, a propriedade dos meios de produção distribuída entre todos de modo igualitário. Esse materialismo marxista, se revela no fundo um projeto de revolução social e econômica; um materialismo baseado, paradoxalmente, em ideias de luta social, na pressuposição de que na sociedade ideal as classes sociais desapareceriam.
Karl Marx (1818-1883)

Algumas conclusões: convém duvidar quando for o caso, pesquisar sempre, buscar as mudanças e transformações que sirvam para a melhoria da situação humana. 


quarta-feira, 12 de junho de 2013

O que é realismo? O que é empirismo?

O realismo toma por base, como o nome indica, a realidade das coisas tais como elas se apresentam, os objetos como origem de todo conhecimento, aquilo com que nos defrontamos é aquilo que conhecemos, impossível iludir-se ou enganar-se quanto a isso. A realidade não é uma construção do sujeito.
Por essas razões, os realistas criticam o idealismo filosófico. Para que multiplicar entidades em um mundo platônico ideal, pergunta Aristóteles. A essência dos seres reside em sua individualidade, em sua especificidade. Todo ser possui uma essência que o caracteriza e o distingue, e acidentes, isto é, o modo como se apresentam, seu estado, seu lugar, seu tempo. 
O realismo vem até a filosofia atual. Moore é um dos principais representantes. Ele argumenta ser impossível  negar que "Isso é uma mão" se refere realmente à mão da pessoa; essa constatação é também a base para um juízo verdadeiro sobre a realidade.

A corrente do empirismo é inglesa, surge no século XVII. John Locke era médico, e a ciência o ensinou que a experiência é o ponto de partida e a finalidade de toda atividade do pensamento, que as ideias provêm todas das sensações por meio das quais nossa capacidade intelectual surge e se desenvolve. A mente é vazia até o contato com o mundo, depois vêm as ideias, a imaginação, a memória, há o papel da linguagem na transmissão e conservação do pensamento. Todos os princípios e máximas morais são produto da cultura e não inerentes ou inatos. Podemos aprender sempre, é pelo uso da razão que crianças aprendem, mas esse uso depende inicialmente das sensações, e estas levam à reflexão. Nada há a priori na mente, nenhuma forma, nenhum princípio transcendental. Digamos que tudo está por fazer, tudo depende da capacidade humana de experimentar, de explorar. As ideias e a consciência delas são operações produzidas pelo próprio indivíduo. 
Como saber que o pão alimenta ou que a água afoga quem não sabe nadar? Sabemos disso pela experiência, responde Hume (empirista inglês, século XVIII). 
Esses argumentos pretendem "derrotar" todo tipo de idealismo, e também o racionalismo francês de Descartes. 

Um parêntese: interessante que hoje há um retorno às concepções de estilo cartesiano, a bagagem inata prepondera sobre a adquirida, o cérebro/mente carrega grande parte de nossas capacidades, o código genético coordena nossa vida física e mental, decretam filósofos como Pinker.

Críticos do realismo, o consideram ingênuo. O que se vê, o chamado real, requer contato, descrição, interação, objetivos. As coisas não estão ali, pura e simplesmente. Situações reais e corriqueiras, quando transpostas para a literatura, para o cinema, por exemplo, assumem outro tipo de realidade, a ficcional. O objeto visto pela lente de um fotógrafo se transforma. Se torna outro tipo de objeto. E que dizer de sonhos, ilusões, desejos, o inconsciente?
Wittgenstein considera que as situações de nossas formas de vida são tão diversas e variadas, que ver a mão, como no exemplo de Moore, e com base nessa constatação achar que o real produz certeza, são aspectos, possibilidades. Que sentido faz dizer "Isso é uma mão" ? Pode ser, por exemplo, a resposta de um paciente a um médico que avalia seu estado de consciência, ou alguém mostrando a uma criança o desenho de uma mão. Depende das circunstâncias. Achar-se diante de uma árvore e constatá-la não assegura que todo conhecimento assim começa; "isso é uma árvore" pode ser a avaliação de um botânico. Em nossa lida com o mundo, observações desse tipo fazem sentido dependendo do contexto de uso. Como saber se não é resposta a uma objeção? Ser real ou não é o que menos importa. Importam aspectos relevantes para aquela situação. Falantes trocam ideias, informações, levam em conta os propósitos de um e outro, entre muitas outras possibilidades.  

Críticos do empirismo, em geral kantianos, acham que sem aparatos racionais para ordenar as experiências, estas só nos confundiriam. Sem princípios universais e atemporais para avaliar e validar as experiências, estas se multiplicariam em vão.

E o que diz o senso comum? Que pão é pão, que pedra é pedra... Filósofos justamente discutem isso.
Pergunte você também: o que é real?