terça-feira, 17 de novembro de 2015

Nem escola com partido nem escola sem partido

Desde os anos 60 professores têm sido instados e doutrinados nos cursos de ciências humanas, principalmente Pedagogia, História, Sociologia e Filosofia que é necessário engajamento político. Chamam a esse engajamento de "consciência crítica" e o conteúdo, a doutrina marxista. Condenam a suposta neutralidade tanto da parte dos professores, quanto ao teor dos livros didáticos.
E o que pretendem com isso? De início, a luta contra a ditadura, contra a censura, o que era um pleito mais do que justo, necessário resistir à ditadura militar, que impôs medo, impôs a doutrina da pátria e de sua segurança, manietou a imprensa, enfim, um regime de força.
A ditadura caiu, mas a mentalidade de grande parte dos professores ainda acha que precisa doutrinar, fazer a apologia do socialismo, derrotar a sociedade dividida em classes sociais; proletariado, estudantes, sem terra devem lutar para acabar com o capitalismo, fonte de todos os males econômicos e sociais.
Em grande parte dos livros didáticos de História Antiga (e agora a proposta é de acabar com a própria história, que é coisa das elites...), nas décadas de 70 e 80 a orientação pedagógica era e até hoje persiste, substituir o descritivismo (datas, batalhas, feitos) pela leitura que chamo de "marxizante". Esta, sob o pretexto de ser participativa, engajada, anti-positivista, pratica o pior dos reducionismos, travestido em "práxis revolucionária". Generaliza e empobrece a riqueza enorme da história universal e nacional, que não cabe na estreiteza das lutas de classe. Definitivamente, nações, países, culturas não se modificam por meio da única visão, empobrecedora da realidade, enfaixada no rótulo "luta de classes".
A reação veio recentemente, nas propostas de "escola sem partido", em que o professor ofereceria uma visão mais ampla, menos política, mais neutra. Haveria uma lista de obrigações, entre elas, evitar a tomada de partido, justamente o da esquerda, acima resumido.

Quem tem razão?!
Nenhum dos dois. Escolas há que têm fundamento em religião, outras são laicas, algumas adotam métodos pedagógicos na linha de Paulo Freire, outras de Piaget, algumas são montessorianas, e assim por diante.
E isso tem a ver com a missão da escola, com sua visão do que é educar. Nenhum problema!
O problema começa quando se imiscuem nos projetos pedagógicos, nas disciplinas escolares, nos livros didáticos, uma orientação sobre como o professor deve ou não deve abordar certos temas.

A alegada impossibilidade de ser neutro por parte dos defensores da escola politicamente engajada (esquerda anticapitalista), e a de que se deve ser neutro (escola sem partido), ambas se equivocam.
E isso porque expor, apresentar, argumentar, criticar, fundamentar, analisar, explicar, todas essas ações didáticas implicam que ensinar e aprender requerem dos professores, diretores, pedagogos acima de tudo, responsabilidade.

Crianças e jovens não estão na escola para serem doutrinados, nem para fazerem o papel de marionetes. Educar é uma atividade, um compromisso com asserções fundamentadas, que podem ser expostas ao crivo da crítica, do aprofundamento e seriedade com que são abordados temas e conteúdos, seja nas aulas de redação, de História, Geografia, ciências naturais.
É muito mais difícil dialogar, argumentar, pesquisar para que suas aulas sejam abertas, sérias, sem manipulação, sem agredir o saber e o conhecimento. Saber e conhecimento são as raízes do ensinar e do aprender.