sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O lugar da Filosofia na cultura atual

 A Filosofia na cultura atual, e me refiro ao Brasil, ocupa um espaço ínfimo, aliás, isso não é de hoje. Restrita a seminários, depois passou a ser ensinada nos cursos de Filosofia e a maioria de seus professores vinha desses seminários. 

Havia um caminho a ser percorrido que era o da Filosofia Cristã nas disciplinas de Ética e Metafísica. A História da Filosofia ocupava o centro, depois vinham a Lógica e a Teoria do Conhecimento. 

Aos poucos outro caminho foi surgindo, dessa vez a influência foi a do marxismo, a filosofia passou a ser um tipo de doutrina a ser passada para alunos que deveriam ser os futuros divulgadores daquelas ideias e projetos para a sociedade. E esse caminho vingou, em particular nas universidades públicas. Havia uma verdade, a de luta social, a do avanço da ideologia marxista, sua propagação e, mesmo com o declínio do comunismo na Europa Ocidental, os modelos soviético e chinês faziam a festa e a cabeça dos assim chamados "engajados". 

Será que o lugar da Filosofia seria esse? Engajar, doutrinar, arrebanhar para uma futura revolução política?

A mais evidente e poderosa razão para discordar desse projeto é a de que a Filosofia não é um projeto político, aprender e ensinar filosofia está muitíssimo longe dessa missão. O principal argumento dos que defendem aquela missão salvacionista é de que há necessidade de tomar partido, que não é possível neutralidade, que em nossa sociedade capitalista, há um mal social a ser extirpado, o da opressão do capital sobre o trabalho, em que há o domínio de uma classe que tudo possui sobre uma classe que nada possui, de que a propriedade privada gera a desigualdade e assim deve ser eliminada.

Falta visão histórica, das mudanças históricas e econômicas na relação capital/trabalho, o papel do avanço tecnológico, do mundo super conectado e informado, transformações que mudam o quadro geopolítico mundial.

De modo tal, que sustentar um discurso político de determinada e muito influente corrente, eu não diria de pensamento, e sim de ideologia, indica pobreza de pensamento. O discurso ideológico não conduz a pensar e a refletir, pelo contrário, ele serve para engajar. É um discurso monolítico que não admite o contraditório. 

A Filosofia tem um papel e um lugar na cultura e se esse papel for reduzido a uma só escola filosófica, então a razão, o pensamento, a reflexão, o questionamento de conceitos, a própria história da filosofia desde os pré-socráticos até a nossa época, isso tudo perde o sentido. Se há uma só doutrina, uma só escola com direito à verdade, o pensamento filosófico se reduz à repetição, a uma oratória vazia e esquelética de ideias. O pensar fica comprimido, se esvai.

A história passada e a do presente podem ser fonte de análise filosófica. Mas o projeto de engajamento ideológico decorre da adesão partidária o que para a Filosofia significa não mais precisar pensar: filosofia e partidarismo se excluem.

O lugar para a Filosofia na cultura atual se afirma, se confirma, se dá devido à abertura que o tipo de reflexão filosófica proporciona. O estudo e a análise do pensamento filosófico fornece as chaves que abrem as portas do saber. E os grandes filósofos são a rica fonte desse saber. 

Infelizmente há um grande vazio de ideias e de filósofos dignos do nome no Brasil. Talvez por isso o discurso ideológico ainda persiste, e com ele a Filosofia se empobrece, infelizmente.