Nós somos o que falamos e como falamos, nossas expressões significam algo para alguém, e o pressuposto é o de que sejamos compreendidos. O que exige frases inteligíveis de parte de quem fala e para quem nos ouve.
Pois bem, a comunicação pela linguagem requer algo mais, lógica. Não a ciência da lógica com seus cálculos, suas fórmulas e sim a lógica do entendimento, do que a pessoa quer dizer.
Lula, nosso presidente da República, solta o verbo bem à vontade. Para citar apenas uma de suas frases, a pronunciada em 25 de julho sobre controle de armas e supostamente tornar a sociedade mais segura: Fechar "quase todos" os clubes de tiro. Não entraremos no mérito da questão, apenas analisar o dito, que logo de cara é inconsistente, incoerente e incongruente.
Consistência significa boa informação, com conteúdo inteligível, que tem a ver com certa situação. Afirmações consistentes querem dizer alguma coisa para alguém, são compreensíveis, uma explanação consistente pode ser conferida, traz informação fidedigna, a comunicação prossegue, foi bem sucedida.
Coerência significa harmonia, impossível que se afirme e negue algo ao mesmo tempo, ou é isso, ou é aquilo. Se a pessoa afirma algo e no dia seguinte afirma o contrário, o interlocutor terá que perguntar: "o que você quis dizer?" Incoerência é muito próxima da desinformação, impede o entendimento, o diálogo não flui.
Congruência significa capacidade de juntar, de analisar, de ligar os pontos, o que se diz tem respaldo na realidade, as palavras fazem sentido e o ouvinte sabe do que se trata, fica bem informado, pode confiar no seu interlocutor.
Assim "quase todos" não é analisável no contexto acima, pois "quase" significa que falta pouco para atingir algo no espaço, no tempo, em certo local, com certa qualidade ou a falta dela. Ex.: "O bolo está quase pronto".
"Todos" significa um universo completo, um círculo que se fecha, que abrange uma quantidade numerável e que tem um fim, que é limitado. "Todos comparecerem à festa, ou faltou alguém?" A resposta consistente, coerente e congruente pode ser: "Quase todos vieram".
Ao contrário, na frase "fechar quase todos os clubes de tiro" a expressão foi mal colocada, impede a compreensão. Podem funcionar quantos? Um, dois, quinze? Isso desinforma, confunde. E mais, fere a lógica. E a responsabilidade de um presidente da República.