sexta-feira, 21 de julho de 2023

O pensamento pós-metafísico para Wittgenstein

Afirmamos na postagem anterior que a diferença entre essência e aparência é uma questão em aberto para os filósofos do assim chamado "pensamento pós-metafísico".

É o caso de Wittgenstein, quando ele afirma que os diálogos socráticos são perda de tempo, que não provam nada e nada esclarecem (in: Culture and Value, p.3). 

Afirmação perturbadora e mesmo chocante, parece um insulto à Filosofia! Afinal, e a sabedoria socrática, onde fica?

Ao levar em conta a linguagem tal como a usamos no dia a dia, os problemas metafísicos como o acima apresentado podem ser dissolvidos com e no uso de nossa linguagem. Assim, "ser" tem sentido como "comer", "andar", quer dizer, a compreensão do significado vem do uso em certo contexto.

A crítica que se faz a esse tipo de conclusão é que tudo se reduz então ao contexto, com consequências como a da limitação do pensamento pela linguagem, isto é, que pensar requer palavras cujo sentido a própria linguagem ordinária estabelece. Ora, é isso mesmo para o pensamento pós-metafísico.

Os limites do nosso pensamento são os limites da linguagem. Difícil aceitar essa perspectiva, pois entende-se que pensar seja algo espiritual e que espírito, mente, consciência, sejam independentes da linguagem, que por vezes a linguagem trai o nosso pensamento, dizemos: "não era exatamente aquilo que eu estava pensando", "não consigo encontrar a palavra para exprimir meu pensamento"; "você não me entende", e assim por diante.

Mas, repare no que foi escrito acima, as expressões usadas são linguísticas, foram escritas e quem as lê entende, são frases da língua portuguesa, traduzíveis para numerosas outras línguas.

"Entender", "pensar", são verbos utilizados assim como se usa "discordar", "admirar-se", "sonhar".

Compare-se "puro espírito", que tem um significado e é uma expressão na língua portuguesa dita por alguém, para alguém, em certa situação, e que será compreendida de tal ou tal modo, comparada com essa outra expressão: "espírito de porco", o sentido muda, "espírito" é usado de outro modo, e interpretado de outro modo. Porco teria espírito? Não é isso que se quer dizer... E sim que tal ou tal pessoa age como um animal que fuça sujeira.

Enfim, as situações são as mais variadas e com tantos significados e expressões quantos o contexto demandar.

Isso é pensamento pós-metafísico. Em última análise, Wittgenstein, Habermas e Rorty se apoiam na linguagem, na cultura, nos artefatos produzidos, no nosso humano modo de ser, de entender, de se comportar, em suma, de agir. Inclusive a tese principal de Habermas é a do "agir comunicativo".

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E a sabedoria socrática? A sabedoria socrática fica onde sempre esteve, nos diálogos de Platão e na compreensão desses diálogos que se não provam e nem esclarecem no sentido proposto por Wittgenstein, podem e devem ser contextualizados. E assim usufruídos.

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