Uma das características mais marcantes do pensamento filosófico antigo é essa, a da diferença entre essência ou eidós e a aparência phainomenon.
A essência é fundamental, e é neste sentido que empregamos o termo habitualmente. Entende-se por "essência" aquilo que algo é em última análise, inevitável, imprescindível.
Pois bem, no sentido filosófico trata-se de algo parecido. Os seres possuem diferentes e diversas aparências. Como então podemos distinguir os diversos seres, dar nome a eles, conhecê-los?
É por meio de sua essência, esta não muda, é a substância inseparável de cada e de todos os seres. E é por meio da essência que o ser é conhecido, distinguível e nomeável.
A essência de homem, de cadeira, de casa, de livro é própria de cada um, impossível confundir homem com cadeira, mesa com livro, casa com homem, e assim por diante.
Surgem questões e dúvidas: distingo uma sombra e digo, "acho que é a sombra de um homem". Acontece que o sentido da visão pode me enganar. Então, para entender a essência, para captá-la, não posso usar o sentido da visão, não me baseio na aparência, nas impressões sensoriais e sim na capacidade de entender, de tornar um ser inteligível. O que leva à questão: como captar, como entender o que não é sensível?
Por meio da mente? Por meio do significado? Por meio do pensamento? Por meio da compreensão intelectual?
A noção de mente ou de consciência só viria mais tarde na Filosofia, com Descartes. Para a Filosofia antiga, para Aristóteles os seres que ele chama de "substâncias" se distinguem em sua essência, e os compreendemos pelo intelecto. Como? Distinguindo sua forma que é como eles são; aquilo de que são feitos, sua matéria (madeira, carne e osso, ferro, etc.); o que neles age, a causa eficiente; para que servem, a causa final.
Há dez propriedades dos seres: essência, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, estado, ação e paixão. Exemplo: um cão, situado num espaço e num tempo, em pé, acordado, pronto para atacar, feroz. Ora, não seriam essas características perceptíveis, quer dizer, captadas pela aparência? A oposição entre essência e aparência então não é válida?!
O rompimento com a metafísica tradicional, teria que romper com essa relação necessária e de exclusão mútua entre essência e aparência.
E isso se deu com Kant: conhecemos o que se nos apresenta, o fenômeno, a essência não podemos conhecer com os nossos meios habituais. A partir dessa nova perspectiva, houve uma virada, uma reviravolta, o chamado pensamento pós-metafísico.
Essa questão fica para a próxima postagem.
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