segunda-feira, 10 de julho de 2023

A música e o infinito

 Nossa compreensão do mundo, da vida, das coisas é insuficiente. E sempre que isso acontece, a linguagem e os símbolos, os conceitos e o pensamento abstrato nos auxiliam a deslindar o mistério. 

Um desses conceitos que nos assombram é o de infinito. Como pode "existir" infinito?

Se infinito for além do concebível, então não temos como concebê-lo, quer dizer, encaixar em algum modo humano de compreensão. Se infinito for concebível, então há como encaixá-lo por nossos meios de compreensão. A questão que sobra é: encaixado é ainda infinito?

Parece que não. Então restam meios de solucionar o impasse.

O primeiro é numérico, números podem ser acrescidos a mais números. Foi a solução , digamos assim, para Pitágoras (o do teorema), no século VI a. C.  No cosmo há harmonia, uma identidade entre todos os seres, algo como que divino. Na música o som se deve à extensão numa corda, as notas são descontínuas, assim como os números. Se não houvesse intervalo, tudo se misturaria num bolo sem sentido.

Faz sentido, portanto, conceber números e sons como descontínuos, pode-se sempre separá-los e levar adiante toda a série, sem parar.

Neste sentido, a música é o que há de mais próximo do infinito. E este é o segundo modo de compreendê-lo. E isso porque na música é possível haver composição, harmonização, encaixar em unidades, os tons, semitons musicais sempre, sempre mais e sempre de modo diferente.

Você percebe imediatamente quando um som, uma nota desafinam, entram em desarmonia, machucam o ouvido. Estar fora do ritmo é como que um desencaixe. Estar no ritmo é encaixar e prosseguir.

E isso ocorre com o corpo ao dançar, ao balançar no ritmo, e esse ritmo impulsiona, e leva até o êxtase, como na dança dos dervixes.



Êxtase místico com o ritmo e a música


Não seriam o mundo, a vida e as coisas tornadas mais compreensíveis se vistas por este ângulo?

Não bastariam os recursos humanos, entre eles especialmente a harmonia musical para servir como símbolo para nossas tentativas de busca do infinito, do ir além? E encontrar nesse ir além algo que está ao nosso alcance imediato: a música, a poesia, a completude.

"Para mim parece que o melhor meio de capturar o mundo como eterno é por meio do trabalho do artista. Creio que o pensamento tem um meio, que é como voar acima do mundo e deixá-lo tal como ele é, visto de cima, num voo" (Wittgenstein, Culture and Value).

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