quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O compromisso da ética do discurso de Habermas em meio às fake news

Quando os comandos da vida cotidiana se pautam por interesses, pelos poderes social, político e econômico, pela luta para sobreviver, pelas exigências em torno ao cuidado com saúde em tempos de pandemia, o que fica relegado a segundo plano são as questões éticas.

A meu ver a ética do discurso de Habermas tem muito a oferecer para o atual momento: "Ela não dita regras, mas filtra pelo discurso aquilo que será acatado por todos e legitimado pelo diálogo aberto à participação de todos aqueles que se sentem responsáveis diante de problemas prementes que a sociedade enfrenta. O desafio é conciliar as condições de correção normativa que são idealizadoras - na medida em que almejam o que se considera como melhor, como válido, justo e aceitável - com as condições de objetivas de aplicação que em geral são difíceis de obter. Vive-se em uma sociedade mundial, com graves injustiças sociais, problemas ambientais, violência urbana, falhas na educação" (ARAÚJO, "Apel e Habermas: a ética do discurso in: Ética em Movimento, Paulus: 2009), e, eu acrescentaria, pobreza, doenças, a epidemia do Covid19, a informação rápida, as redes sociais, as falsas notícias.

                                                        

                                                                  Filósofo alemão - 1929---            

Como se pode constatar, são muitos os problemas e invocar a ética do discurso é o mesmo que apelar para a responsabilidade do que se diz, da chamada razão comunicativa. Ela tem um pé em Kant, com os pilares da autonomia da vontade em seguir a obrigação moral que diz respeito a todos; e outro pé nos atos de fala, no uso da fala visando acordo, entendimento e isso se alcança pela relação com o relação mundo objetivo de situações constatáveis, com o mundo social que nos insta a atos que comprometem a todos, uns com os outros, e ao mundo pessoal, o de cada um com suas circunstâncias, intenções, o engajamento sincero, o empenho com seus compromissos.

Difícil? Sim! Necessário? Sim!

E o maior obstáculo para esse tipo de engajamento e responsabilização é justamente o meio de comunicação diluído, impessoal e, muitas vezes prejudicial. A postagem de selfies vale mais do que buscar informação constatável e confiável. Vale tudo nas redes sociais.

Se o discurso é o meio e o fim do compromisso moral, isso se deve a que ele deve ser filtrado pela responsabilidade, pelo engajamento com os três mundos acima mencionados, com o conhecimento calcado em abertura, possibilidade de confirmação e igualmente de falseamento, e isso tudo suscetível de passar pelo filtro de todos os envolvidos.

Julgamento imparcial e possibilidade de abrir as ações de fala para o diálogo, esse é o meio essencial para a comunicação e para a responsabilização, mas que se torna a cada dia mais desprezado, desgastado, e mesmo ridicularizado...

Entretanto, se a comunidade local e internacional conseguir atores cujas ações visem o entendimento, a inclusão por meio de educação universal e de qualidade, é sempre possível recuperar credibilidade. Basta para tal seguir princípios de veracidade, justificação, normatividade e sinceridade.

Vivemos a encruzilhada da manipulação travestida em verdade, e da verdade em meio à difícil missão de abrir-se, revelar-se, ser ajuizável e engajadora.

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