Quando se fala em filosofia, logo vem à mente algo complexo, abstrato e inútil. Coisa da cabeça, dizem. Nada prática.
Na última postagem publiquei a estátua do Semeador para ilustrar a filosofia como ação, como atividade, semear ideias, conceitos, novas visões, modos de nos compreendermos, de avaliar situações e lidar com elas de forma mais investigadora e instigadora.
A filosofia se volta para ela mesma, para a sua história, e repensa seu papel, leva-nos a aprender com a realidade e a apreendê-la, isto é, pensar o real e transformar algo nas pessoas, a semente da pergunta, da indagação.
Ela proporciona conceitos para uma melhor compreensão de três áreas:
1. A ética e a política. O filósofo emblemático é Aristóteles para entender porque ética e política estão relacionadas. A sociedade política é um bem de e para todos, o homem como animal social, tem o senso do bem e do mal, do justo e do injusto. A sociedade política é uma reunião de pessoas para promover o bem viver; é preciso que o Estado proporcione uma vida feliz e virtuosa, que seja conduzido por um piloto que entenda de navegação. Diz Aristóteles em A Política:
Quando o monarca, a minoria ou a maioria, não buscam senão a felicidade geral, o governo é justo. Mas se visa ao interesse particular do príncipe ou dos outros chefes, há um desvio (p. 93). É impossível um Estado feliz se dele a honestidade for banida (p. 49).
2. A cultura. Vejamos o que diz Nietzsche: é preciso coragem para romper com valores gastos e estabelecidos. Reinventar valores cabe ao poeta solitário, capaz de dispensar a moeda gasta, de associar conceitos às necessidades e atribulações. A cultura sofre, foi banalizada, tudo está a serviço da barbárie, até mesmo a arte e a ciência (cf Considerações Contemporâneas, p. 74). Há que fugir do conformismo, do é assim mesmo, e penetrar nos difíceis caminhos do "eu assim o quis" (moral do forte).
3. As práticas humanas. Nasceram na história, e têm uma história, muita vezes cruel. Foucault mostra que o modo como o sujeito humano moderno se constitui, depende de práticas como as da prisão, hospitais, invenção da psiquiatria, das ciências humanas, que servem para conhecer o homem, e, ao mesmo tempo domesticá-lo. Em Vigiar e Punir Foucault analisa como o saber produz poder instalado em práticas como o castigo para o escolar, a prisão como forma generalizada para punir, o surgimento de instituições que dependem de vigilância. Esse é tema para próxima postagem.
Pensar não é pouca coisa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário