Há algumas lições a serem relembradas por ocasião das olimpíadas no Brasil, especialmente com relação às virtudes clássicas que Aristóteles listou em sua ética.
Entre elas a da coragem, coragem moral e coragem física. Quando o atleta persiste em seus treinos, e se ele tem vontade, determinação e capacidade para isso, quer vencer. Ele sabe que o risco é também perder.
Estes esportes e jogos remetem à Grécia Clássica, homens jovens (parece que as mulheres só começaram a "existir" no século XX) eram educados por meio de exercícios físicos, capacidade de lutar, e também intelectualmente. "Os deuses não concederam aos homens nenhuma das coisas belas e boas sem fadiga e estudos (...); se desejares ter um corpo forte, deves habituá-lo a obedecer à mente e exercitá-lo com fadigas e suores" (Xenofonte, Memorabilia).
Esses sábios conselhos resumem o modo como ginastas, esportistas e atletas agem, o grau de exigência de si, sua luta para superar dificuldades.
Um dos pontos fortes do modo grego de ser, de sua prática cotidiana, de sua ética, era o domínio de si mesmo, tão importante quanto a moderação, o meio termo.
E para obter o domínio de si, fundamental é a educação do jovem, a experiência com os revezes, com as dificuldades, a fim de se fortalecer. Nada disso vale sem a profunda reflexão, como perguntar: "o que eu penso, o que eu desejo, o que eu posso conseguir?"
Além do domínio sobre si mesmo, a outra virtude necessária ao atleta e sua educação/formação, é a coragem. Não entendida como bravata, como enaltecimento, e sim como o meio termo entre o medo e a confiança excessiva. A coragem, segundo Aristóteles em Ética a Nicômaco, é uma disposição do caráter, ela é nobre e nobre sua finalidade, distinta tanto do medo dos covardes, quanto do bravo que diz nada temer. Isso porque o corajoso enfrenta, suporta, se esforça mesmo diante de golpes dolorosos. Praticar a virtude da coragem é difícil, altamente compensado com o fim conquistado, e Aristóteles cita como exemplo os soldados e o atletas.
Tão importante quanto as virtudes do caráter, são as virtudes intelectuais, como a sabedoria e a compreensão, ou seja, saber avaliar e julgar. Se estas últimas virtudes acompanharem o atleta, tanto maior será seu valor.
E hoje? Há pouca reflexão sobre o real valor da competição nos esportes e no atletismo. A cultura de um povo parece ora incentivar, ora relegar a segundo plano vencer em jogos e esportes.
Ao lado de tradição, se juntam incentivo e capacitação técnica, cada vez mais aprimorada.
Isso sem falar das políticas públicas, no Brasil praticamente inexistentes...
Quem sabe ganhar tem noção exata da medida de seus esforços e de sua capacidade.
Saber ganhar
Os que não sabem perder desconhecem a capacidade do(s) outro(s) e ignoram seus próprios limites.
Saber perder
PS: a torcida que vaia não se comporta como público educado para assistir e incentivar, vibrar e saber calar. Comporta-se como turba, como multidão ululante e ignorante.
Há décadas os alunos que se formam nos cursos de licenciatura, em especial Pedagogia, Sociologia e História, devem se adequar a uma linha de pesquisa, a do marxismo, a da dialética, a gramsciana.
Seus trabalhos, dissertações e teses seguem as noções de que a história é a dos oprimidos, que desde os gregos e romanos há uma divisão de classes sociais, e que o capitalismo é intrinsecamente prejudicial, deve ser substituído pelo socialismo, que os povos indígenas e os pobres representam a salvação da sociedade, que a exploração capitalista é a mãe de todos os males, que as lutas devem se pautar pelo banimento do capital, do investimento estrangeiro, que o FMI e a política norte-americana impedem que a pobreza seja erradicada, que a propriedade privada seja distribuída, que a escola seja o lugar dos ensinamentos de Paulo Freire.
Essa linha dura da esquerda se confronta com outra linha dura, a da direita. Ela prega o inverso: que igualdade nunca será alcançada, que as diferenças entre classes sociais são desprezíveis, que o indivíduo está acima das classes. Seu princípio é o do conservadorismo: Deus, pátria, família.
Ora, educar por uma ou outra dessas tendência não é educar, é influenciar segundo uma doutrina, um tipo de pensamento que evita o confronto com a história, com os acontecimentos, com as ideias. Impede o argumento, a liberdade que o professor deve exigir para si, a cabeça arejada, livre das amarras doutrinárias sejam elas a de que produzir é explorar, ou a de que basta empreender, investir, lucrar a qualquer preço.
Estudos sérios da história, da sociedade e da economia nacional e a história das sociedades como um todo, são raros, é preciso que novas gerações façam um esforço nesse sentido, E como? Por meio da pesquisa de fontes, checando a idoneidade delas, pelo estudo sério e comprometido com o aprendizado, e sempre com liberdade para criticar, para apontar eventuais erros, e, principalmente entender que não há a verdade.
O que move a história dos povos e nações não é exclusivamente o interesse econômico, nem os valores sacramentados da cultura branca, europeia, elitista.
O poder não tem dono, seja um partido político, sejam as classes superiores que impõem valores como se fossem intocáveis.
Somos povo, somos povos, somos diversos, nosso bem maior é a autonomia, a capacidade de decidir de acordo com princípios que passaram pelo crivo das leis, dos direitos, da liberdade de expressar ideias e valores, da discussão pública dos mesmos.
O descrito acima requer democracia, espaço público de discussão, a qual depende de informação, de conteúdo sério, de livre comunicação, de investimento na educação. A função primordial das escolas é formar pessoas aptas e educadas, e não gado a ser conduzido. Que os professores precisam vir capacitados a lidar com crianças, adolescentes e jovens, os quais não são rebanho a ser conduzido cegamente por uma ideologia ou doutrina. Que é preciso informar, capacitar, exercitar o poder de agir, de elucidar, de entender que em toda sociedade há fatores econômicos (trabalho, capital, investimento, produção), fatores sociais (educação, regras de convivência, possibilidade de ascensão social, liberdade de pensamento), fatores políticos (partidos, leis, direito, governo, a harmonia e o respeito entre os três poderes).
Professores não devem se submeter à bibliografia de seu orientador (linha de pesquisa de orientação marxista/gramsciana), nem devem ser submetidos a regras de conduta obrigatórias penduradas em sua sala de aula (proposta do movimento "escola sem partido").
A função terapêutica da filosofia pode ser entendida como consolo, solução às dúvidas, esclarecimento, limpeza da mente quando o filósofo nos conduz a um tipo de repouso da alma. Não aquele repouso que as religiões e a meditação alcançam, e sim o da tranquilidade que as reflexões acerca de nós, nossa vida, nosso ser, o sentido de nossa existência abrem novos caminhos, mesmo que não se chegue às respostas.
Se a filosofia sobretudo indaga, as religiões e a meditação transcendental sossegam, pois não devem gerar dúvida nem conflito.
Em compensação, as perguntas de estilo filosófico exigem muito menos da emoção e bastante do intelecto, da inteligência curiosa, do estudo dos mais eminentes filósofos, das próprias questões que muitas vezes postulamos.
Mas, se a filosofia como terapia for entendida no sentido de Wittgenstein, as exigências costumeiras da reflexão filosófica devem, ao contrário do exposto acima, ser elididas e no lugar de refletir sobre o ser em geral (metafísica), sobre nossa existência, sobre o conhecer, o saber, o que é o real, o que é verdade, certeza, Deus, o mundo, a totalidade dos seres, Witgenstein surpreende:
Não temos e nem precisamos desse tipo de problemática, nosso modo de vida, nossas formas de vida aprenderam a linguagem, a lidar com ela e simultaneamente com tudo o que nos cerca em nosso dia a dia.
O filósofo vienense se debruça sobre o uso normal da linguagem, os jogos de linguagem e desse modo dissolve questões ao invés de resolvê-las.
(1889-1951)
O que é o ser? Faça a seguinte experiência: como você usa no trato da linguagem, que foi aprendida e que só faz sentido nesses usos, o verbo ser, ou o substantivo ser.
Se você conversa com alguém e pergunta, o que é isso ou aquilo, se você ensina a uma criança a diferença entre seres vivos e seres inanimados, se você adverte que é preciso ser responsável, se você em uma aula de filosofia expõe a natureza do ser para certo filósofo, isso mostra que há diversos e diferentes usos do termo ser.
Desse modo, entendendo que o problemático uma vez contextualizado pelos usos habituais de jogos de linguagem, se dissolve, o que pode parecer inócuo e decepcionante, se transforma com a terapia filosófica de Wittgenstein. Ela pode significar um modo novo e interessante de encarar justamente, sua própria vida, seu destino, o que é inalcançável e que não poderemos nunca compreender (mistério que envolve o começo, as causas, a divindade, o fim de tudo, e muitas questões metafísicas) e dá-se então uma reviravolta no tipo de vida e de vivência: tristeza, alegria, frustrações, realizações, passam a caber em outro molde após a terapia.
Reduzir as questões filosóficas ao modo cotidiano e mesmo banal de nossas formas de vida, significa aceitar que somos nós mesmos os produtores dos meios que nos levam àquelas questões. Quer dizer, sem a linguagem aprendida, sem os meios culturais nos quais ela se forja, não teríamos como alcançar inclusive a tranquilidade da reflexão filosófica, que mencionamos no início. Mas com uma nova visão, uma nova perspectiva, a nossa, a humana, tudo muda de figura.
"Mesmo o mais poderoso telescópio requer para seu uso a medida do olho humano".
"Um enigma filosófico surge quando se tem uma morfologia limitada dos usos da linguagem"
"Um conceito é uma técnica de uso de uma palavra"
"Pensamentos que estão em paz, é a isso que a reflexão filosófica almeja"
(Wittgenstein)
Após o odioso massacre de Orlando, absurdo, preconceituoso e, especialmente cruel, cuja repercussão fala por si só, - houve o assassinato de um casal de policiais, na cidadezinha de Magnanville, região de Île de France, com apenas 6000 habitantes. Foi no dia 13 de junho (2016).
Trata-se também de radical islamita, Larossi Abdalla, que já havia sido preso por radicalização e que, na prisão insuflou rebeliões em prol de suas crenças e ideias absurdas, pregação de que somente sua seita tem razão, todos a ela devem se submeter, e morte a quem ousar ser livre, diferente, afirmar seu modo de vida e de pensamento.
O que surpreende, como grande parte dos moradores da pequena cidade foram unânimes em desabafar, é que não podiam compreender o ato, uma senhora chegou a observar, que se fosse em Paris, até seria esperado, mas porque ali? Como entender que alguém esfaqueie o casal, por serem policiais?! Larossi saiu deixando os corpos dos pais junto ao filho de três anos!
Os policiais franceses tomaram uma atitude, exigir do sindicato portarem armas o tempo todo e em qualquer lugar.
Isso significa que um "lobo solitário", a mando do Exército Islâmico (Isis) venha a assassinar toda e qualquer pessoa, seja ou não uma autoridade, divirja ou não de sua "fé", pois nem mesmo muçulmanos estão a salvo, e essa pessoa pode estar em qualquer lugar.
Outra questão: punir como, se o terrorista nasceu nos EUA ou na Europa, tem cidadania, estudou, tem família, como descobrir onde estão as células, quem são os aliciados, como detê-los?
Impossível!
Criar uma Guantánamo na França como se cogitou? Injusto e inviável, açodaria ainda mais os dispostos a tudo em nome de um exército de desvairados, que matam muito mais na Síria.
E que dizer da complacência e mesmo apoio financeiro da Arábia Saudita? Os xeiques nadam em dinheiro e luxo, fruto do petróleo, e devem rir dos atentados.
Por que se calam os países atingidos pelo terrorismo e não condenam os mandatários da Arábia Saudita?!
Se o petróleo financia o radicalismo islâmico, que se busquem outros fornecedores, energia alternativa, ou outro meio. O terrível é deixar xeiques (note-se a omissão da Rússia), sabotarem os valores das culturas e civilizações onde há liberdade religiosa, política, onde mulheres podem estudar, as diversas religiões podem ser praticadas, onde cada indivíduo pode escolher seu modo de viver e de educar seus filhos.
Corações e mentes se inflamaram com a incorporação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação. Dificilmente se vê toda uma classe de intelectuais, produtores culturais, artistas tão unidos em protesto por uma causa tão polêmica.
Até que ponto é necessário um ministério para firmar a importância da cultura? A quem interessa esse tipo de prestígio? No governo Dilma a verba para o MinC minguava mês a mês sem que artistas e seus seguidores protestassem...
Vejamos o que está em jogo: a volta de um ministério dedicado à cultura apaziguou os ânimos de muitos que sinceramente acham que o prestígio da cultura e da arte automaticamente automaticamente restaurado.
É preciso perguntar: qual é o papel da cultura na sociedade brasileira atual? Quais são os produtos culturais que requerem verba do governo federal? Como aplicar a lei Rouanet com critérios condizentes? Quem julga o projeto merecedor de verba?
Teatro, dança, música, literatura, cinema, preservação do patrimônio público e museus raramente interessam ao investidor privado (não é o caso em países desenvolvidos), a menos que haja retorno garantido, como em publicidade.
A iniciativa particular nos setores acima descritos, por exemplo, uma escola de balé ou de teatro, cobrará de seus alunos. Qual o alcance desses empreendimentos? Pouco, raro e caro.
Por isso, uma orquestra, como a do Teatro Guaíra em Curitiba, precisa de verba pública, no Brasil há pouquíssimos mecenas.
Somos um país dependente do governo. Não há iniciativa, luta e garra para obter patrocínio de empresas de um modo contínuo e que não dependa de subsídios.
Desse modo, a produção cultural se vê amarrada a certos apadrinhamentos, a certa política, a certos governos.
Ora, a abertura para atrair produtos de melhor qualidade, educar o público para apreciar e participar mais e com continuidade, engajar escolas, universidades, organizações não governamentais em projetos com alcance maior, é isso que faz a ponte entre cultura e sociedade. Sem esquecer que cultura é a identidade de um povo, sua marca.
Um dos principais representantes da tribo Terena, afirmou com sabedoria: "Eu posso ser você, sem deixar de ser eu", quer dizer, a cultura dos índios pode assimilar produtos, sem que eles percam sua identidade.
"Cultura é como uma grande organização que assinala a cada um de seus membros um lugar onde ele pode trabalhar no espírito do todo", escreveu Wittgenstein.
Cultura não é, portanto, o pensamento oficial, não pode e nem deve passar pelo filtro de um partido político, de aprovação ideológica, ou pior, de disseminação de certa ideologia política. Esses filtros funcionam como trava à liberdade de criação, ao espaço para o pensar diverso, para a divergência, sem patrulha. Ainda Wittgenstein: "dogmas impedem a livre expressão de toda opinião, é como se eles fossem um peso atado às pernas que travam a liberdade de movimento".
Assim, se a cultura de um povo depender de seus ídolos, de seus apaniguados, de certos artistas com prestígio e com verba governamental, não é cultura. Esses "intelectuais" se aninham no poder, no dinheiro público, nas mídias sociais para, todo sorrisos, permanecerem com seu status.
Em sua dimensão filosófica, a cultura é muito mais séria e com resultados muito mais amplos: de que perspectiva o escritor, o cineasta, o cantor, o violinista da orquestra, a bailarina atuam?
A criação artística e cultural não nasce espontaneamente, precisa ser cultivada. E o que sustenta a produção de arte senão a própria sociedade educada, tanto pela educação formal, como pela informal? Não há cultura sem educação, nem educação sem cultura.
Tomemos dois filósofos contemporâneos, Habermas, para argumentar pró universalismo, e R. Rorty, para argumentar pró contextualismo.
O pano de fundo de ambos é a modernidade, entendida no sentido histórico de época em que há uma separação entre arte, religião e política, e em que a moral e o direito são exercidos com base em princípios e não na autoridade de um governante supremo. Na modernidade surgem as empresas capitalistas, há uma regulamentação do trabalho, em que passa a contar a produtividade. Cidades se expandem e o comércio se internacionaliza. A ciência progride, e a educação adota critérios formais, como: avaliações, séries, didática, conteúdos programáticos, democratização e universalização.
Habermas considera que não vivemos na pós-modernidade, pois o projeto emancipatório não se esgotou, a liberdade e a democracia ainda são a chave para superação da opressão.
(1929 -vivo e atuante)
Ele critica essa postura derrotista dos pós-modernos, sem cair no pressuposto iluminista de que a razão liberta, de que o sujeito é autor absoluto de seu destino. Essas filosofias do sujeito, ou da consciência, começam e terminam no ego. Ora, o sujeito voltado para si, fica impedido de agir, de sair de si, sua razão se fecha. O novo modelo para Habermas é o da intersubjetividade, que é social, ativa, participativa. Não é possível confiar ingenuamente na razão e nem desconfiar dela por se ver submetida a forças, ao poder.
A crítica da razão não se faz sem que sujeitos se defrontem, se confrontem, estabeleçam para si regras em que ganhem autonomia, apostar na irracionalidade ou na negação radical impede que a própria racionalidade faça a crítica do mito, dos jogos de poder, da ideologia. Que racionalidade é essa?
A da razão comunicativa, aberta pela linguagem em seus atos de fala que possibilitam atingir verdade e objetividade, sem prescindir de veracidade e autenticidade pessoal, juntamente com a prática de normas acordadas pela sociedade democrática.
(1931-2007)
Para Rorty, entrar em diálogo comunicativo com os critérios a que todos os partícipes atendem, ou seja, a validação dos resultados da ação comunicativa que visa entendimento, encontra sérios obstáculos. A sociedade atual é plural, há permanente conflito e discordância, impossível que haja um critério universal para justificar todos os embates sociais e culturais. Para Rorty, as práticas de justificação e validação de juízos de valor são locais, o horizonte linguístico de comunidades é seu contexto, e é nele e com ele que se fazem afirmações e se as justifica. A linguagem, com a cultura, as crenças e os valores aceitos bastam para atender ao critério de coerência de nossas afirmações.
Qual dos dois filósofos tem razão?
A pergunta está mal colocada, não há que dar razão a um ou a outro e sim mostrar o quanto as duas perspectivas satisfazem o saber, isto é, se com elas a Filosofia se enriquece e abre novos horizontes.
Habermas não nega a importância do contexto social e cultural em que a razão comunicativa se exerce, pois ela depende da ação, da busca cooperativa da verdade, de argumentos. E esses são extraídos localmente, mas sua validação exige que o seja para todos, a verdade pode ser contestada, se as condições para ela são satisfeitas ou não, mas dela não se prescinde.
Se olharmos para o conturbado mundo atual, então Rorty fornece certas chaves para entender que diálogos situados, contextualizados que sirvam à justificação podem prescindir da verdade, o conceito de verdade é supérfluo, o mais importante é a tolerância, a liberalidade, o antidogmatismo.
Ambos contribuem para o enriquecimento da Filosofia. E mais, uma posição não anula necessariamente a outra, tanto Habermas quanto Rorty condenam a violência, o terror, a alienação pelas forças imperativas do poder político ditatorial e do mercado sempre que seus efeitos se agigantam e fogem do controle de normas e das garantias do direito em sociedades democráticas.
É possível ignorar e deixar passar em brancas nuvens acontecimentos próximos ou em locais distantes, relativos à vida social, à situação política, econômica e mesmo moral?
Infelizmente sim, para grande parte da humanidade que afirma: "não tenho nada a ver com isso..." e desligam sua consciência moral, política, social. Deixam que outros se ocupem e se preocupem, "Eu vou cuidar de minha própria vida".
Engajamento, militância, extremismo, paixão cega por um partido, grupo social, ideologia política, seria o outro lado da moeda. Não a indiferença e o absenteísmo, mas pregar, influenciar, passar por cima de argumentos, deixar de lado a análise atenta e honesta em nome de um credo político, muitas vezes disfarce para tirar proveito da situação.
Assim, a ética da responsabilidade pleiteia o meio termo, no meio está a sabedoria, já ensinam filósofos como Aristóteles. O equilíbrio e a equanimidade levam a aderir a causas, posicionar-se e responsabilizar-se diante de injustiças, crimes, desvios da legalidade, corrupção das autoridades que lesam o patrimônio público e burlam regras essenciais a sua profissão e cargo, em nível mais amplo. E em nível mais restrito, devemos nos indignar com as faltas e falhas tidas como menores, como burlar regras de trânsito, pichar, sujar, destruir o patrimônio público e privado.
A condição primeira da ética da responsabilidade é a informação fidedigna, pois ignorar ou distorcer acontecimentos impossibilita responder adequadamente aos erros e desvios, como denunciar e exigir respaldo e reparos a esses erros e injustiças se não se conhece o que realmente ocorreu?
Veracidade, legitimidade, respeito às normas que foram acordadas por todos em estados democráticos de direito, apuração da verdade, exigência de discussão pública e argumentação sustentada pela busca incansável do bem comum, isso tudo é indispensável! São também condições da ética da responsabilidade ouvir as partes interessadas, capacidade de justificar e estender os resultados a todos os interessados, a chamada universalização, isto é, o máximo de pessoas julgando, agindo e transformando a sociedade com respeito ao bem comum.
Ao lado do poder da informação, a outra base necessária dessa ética é a educação. A responsabilidade é ainda maior e mais grave quando se trata de educar, de construir a personalidade, de capacitar para a vida em sociedade, de instrumentalizar para o exercício de uma atividade. E esses deveres dos professores e dos que propõem as políticas educacionais são cruciais, são indispensáveis. Inaceitáveis são a negligência, a indiferença ou o outro extremo, considerar que se pode imprimir na cabeça de crianças e adolescentes uma "história" falseada imposta como se impõe uma cartilha: não há outro lado, não há divergência, só o amém ao desgastado discurso de classe social, de luta de classes, de que o capitalismo é o mal por excelência.
Ora, é a maior das irresponsabilidades éticas incutir a noção fácil de digerir de que a pobreza e a desigualdade social são fruto dos empresários e capitalistas gananciosos...
Uma análise criteriosa da história não só a nossa, do Brasil, mas a da Europa, da Ásia, da África, portam elementos diversos, impossível reduzi-la à luta de classes, discurso esse que endeusa o Estado, que justifica ditaduras, que desconhece propositadamente os ciclos e movimentos complexos da história.
Não é preciso ser marxista nem gramsciano para reconhecer que há pobreza, miséria, violência, que educação universal e de qualidade inexiste.
Mas é preciso ação, preocupação, responsabilidade principalmente do poder público para tomar iniciativas que minorem a injustiça social. Produzir riqueza é o melhor meio para reduzir a pobreza.