segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sobre cultura, sociedade e filosofia

Corações e mentes se inflamaram com a incorporação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação. Dificilmente se vê toda uma classe de intelectuais, produtores culturais, artistas tão unidos em protesto por uma causa tão polêmica.
Até que ponto é necessário um ministério para firmar a importância da cultura? A quem interessa esse tipo de prestígio? No governo Dilma a verba para o MinC minguava mês a mês sem que artistas e seus seguidores protestassem...
Vejamos o que está em jogo: a volta de um ministério dedicado à cultura apaziguou os ânimos de muitos que sinceramente acham que o prestígio da cultura e da arte automaticamente automaticamente restaurado.
É preciso perguntar: qual é o papel da cultura na sociedade brasileira atual? Quais são os produtos culturais que requerem verba do governo federal? Como aplicar a lei Rouanet com critérios condizentes? Quem julga o projeto merecedor de verba?
Teatro, dança, música, literatura, cinema, preservação do patrimônio público e museus raramente interessam ao investidor privado (não é o caso em países desenvolvidos), a menos que haja retorno garantido, como em publicidade.
A iniciativa particular nos setores acima descritos, por exemplo, uma escola de balé ou de teatro, cobrará de seus alunos. Qual o alcance desses empreendimentos? Pouco, raro e caro.
Por isso, uma orquestra, como a do Teatro Guaíra em Curitiba, precisa de verba pública, no Brasil há pouquíssimos mecenas.
Somos um país dependente do governo. Não há iniciativa, luta e garra para obter patrocínio de empresas de um modo contínuo e que não dependa de subsídios.
Desse modo, a produção cultural se vê amarrada a certos apadrinhamentos, a certa política, a certos governos.

Ora, a abertura para atrair produtos de melhor qualidade, educar o público para apreciar e participar mais e com continuidade, engajar escolas, universidades, organizações não governamentais em projetos com alcance maior, é isso que faz a ponte entre cultura e sociedade. Sem esquecer que cultura é a identidade de um povo, sua marca. 


Um dos principais representantes da tribo Terena, afirmou com sabedoria: "Eu posso ser você, sem deixar de ser eu", quer dizer, a cultura dos índios pode assimilar produtos, sem que eles percam sua identidade.

"Cultura é como uma grande organização que assinala a cada um de seus membros um lugar onde ele pode trabalhar no espírito do todo", escreveu Wittgenstein.

Cultura não é, portanto, o pensamento oficial, não pode e nem deve passar pelo filtro de um partido político, de aprovação ideológica, ou pior, de disseminação de certa ideologia política. Esses filtros funcionam como trava à liberdade de criação, ao espaço para o pensar diverso, para a divergência, sem patrulha. Ainda Wittgenstein: "dogmas impedem a livre expressão de toda opinião, é como se eles fossem um peso atado às pernas que travam a liberdade de movimento".

Assim, se a cultura de um povo depender de seus ídolos, de seus apaniguados, de certos artistas com prestígio e com verba governamental, não é cultura. Esses "intelectuais" se aninham no poder, no dinheiro público, nas mídias sociais para, todo sorrisos, permanecerem com seu status.

Em sua dimensão filosófica, a cultura é muito mais séria e com resultados muito mais amplos: de que perspectiva o escritor, o cineasta, o cantor, o violinista da orquestra, a bailarina atuam?
A criação artística e cultural não nasce espontaneamente, precisa ser cultivada. E o que sustenta a produção de arte senão a própria sociedade educada, tanto pela educação formal, como pela informal? Não há cultura sem educação, nem educação sem cultura.

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