terça-feira, 5 de setembro de 2023

O eterno e o telescópio James Webb

 Nosso tempo é vivido, mensurado, inescapável. Nascemos, vivemos e morreremos, impossível sair dessa condição. Só podemos nos expressar, nos comunicar em certa língua, gestos, sempre no nosso tempo, no nosso cotidiano, nas nossas vivências.

Se nos fosse dada uma linguagem em que pudéssemos falar num tempo eterno, ela não faria sentido algum. Usamos para nos referirmos frases no tempo passado (já era), no tempo presente (aqui e agora) e num tempo futuro (que ainda virá). E isso pressupõe sucessões, mudanças, movimentos que iniciaram e que vão cessar. 

Há eterno no homem? Em que sentido? Em nossa crença em Deus? Em nosso desejo profundo de nos eternizarmos, seja com nossos descendentes, seja com obras de arte, seja com a procura por nossas origens no planeta? Mas, só é possível buscar, descobrir, revelar acerca de certo período num tempo histórico, o da história humana

Até mesmo na ficção científica, com expedições a outros planetas, seres intergalácticos, naves estratosféricas, e tudo o mais que a imaginação e a criatividade são capazes de elaborar, somente são inteligíveis e comunicáveis porque dentro de um quadro de referência a estados temporais e sucessão de fatos, que são narrados, quer dizer, num tempo, que, evidentemente não é eterno.

Um dos mais poderosos instrumentos criados para especular sobre o espaço (e o tempo?) é o telescópio James Webb, resultado de uma sofisticada tecnologia que foi aprimorada por numerosos engenheiros, cuja montagem passou por testes, com risco enorme, mas calculado, de insucesso.

Lançado com êxito, temos imagens do passado de milhões de anos que chegam até o presente. Essas imagens são reelaboradas, são analisadas. Diante delas o mistério é simultaneamente velado e desvelado. São imagens belas, admiráveis e que provocam ainda mais especulações. Até mesmo a de captarem algo inédito e surpreendente. 




Enfim, nem o telescópio revela a eternidade, pois as imagens captadas se mostram, são de algo que está lá. 

A questão é, sempre estiveram? Sempre estarão? Se houvesse uma resposta, teríamos então o eterno? Seria eterno o tempo que sempre volta? O eterno retorno para Nietzsche é uma metáfora para o tempo com seus vários instantes, os "agoras" que sempre voltam, sem estado final, a dureza da vida humana que se repete. Esse seria o eterno que faz sentido...

E faz sentido poeticamente, emocionalmente. "Amor eterno", jura de amor entre apaixonados. "Eterna gratidão" em homenagem aos mortos. Quer dizer, os usos apropriados e compreensíveis de "eterno" estão em nossas vidas. No mais um enigma, resta a nós humanos especular.

PS.: série sobre o telescópio James Webb disponível na Netflix.


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