domingo, 17 de setembro de 2023

Causalidade e determinismo

 O conceito filosófico de causa se deve aos primeiros filósofos, justamente em sua busca de uma razão para tudo o que há. A noção filosófica de que tem de haver um princípio único que dê origem a todas as coisas se relaciona com a ideia de que tudo se conecta, de que não há acontecimentos independentes, aleatórios, inexplicáveis. Uma corrente causal se estende a todos os seres. 

Esse desejo de unidade e de clareza, de decifração e de explicação se deve à própria natureza da ação humana: o que se faz, o que não se faz, o que se intenciona, o que se pretende evitar, o que alcançar, e isso tanto na menor e mais simples das atitudes, como na mais complexa e plena de consequências. Para caçar, assar e comer a presa, para pescar, para construir uma ponte, para ultrapassar obstáculos, a humanidade precisou usar da causalidade, precisou entender e respeitar fenômenos da natureza, precisou construir abrigos proteger seus filhos, precisou lutar contra inimigos.

Em tudo isso funciona a noção de causa e efeito.

Por detrás do conceito de causalidade vige um pressuposto, o do determinismo. O único filósofo pré-socrático que recusou o determinismo foi Anaximandro. Para ele tudo foi gerado por um princípio indeterminado, ilimitado. Mas, essa causa primeira produziu tudo o que há no cosmos, quer dizer, seres determinados, específicos. 

Seria um mundo incompreensível se houvesse a pura e simples indeterminação.



A Física pressupõe modelos, não há uma única teoria para explicar a constituição atômica da matéria.

Por outro lado, o determinismo radical  pressupõe que se um estado de coisa fosse conhecido e inteiramente decifrado, todo o restante seria previsível. Esse determinismo ignora a necessária abertura para o desconhecido, para o imprevisível, para o inédito. Inclusive significa que a ação humana seria como que guiada por fios tais como os barbantes de um teatro de fantoches.

Por mais que a ciência encontre e comprove causas e leis acerca dos fenômenos naturais, novos e imprevisíveis acontecimentos surgem, provocam nova cadeia causal.

Não conhecemos tudo do passado e nem podemos prever que o futuro será desastroso ou glorioso. O que não quer dizer, mais uma vez, que o indeterminismo prevaleça. Temos suficientes certezas para não sermos engolidos pelo abismo. E que o inevitável um dia acontecerá...


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