quinta-feira, 30 de março de 2017

O que é historicidade?

Foi apenas a partir da segunda metade do século 18 que a noção de historicidade foi incorporada pela Filosofia. A narração histórica é antiga, assim como a percepção da mudança temporal. Mas considerar que a história integra o nosso modo de conhecer e interpretar, isso é mais recente, caracteriza a modernidade.
É impossível desconsiderar que nosso modo de pensar e agir muda com o tempo histórico, que sem levar em conta seu tempo, fica difícil, senão impossível compreender nossa situação e avaliá-la. A mais notável contribuição desse novo modo de ver, é que conceitos, ideias, noções, visões, interpretações mudam, que não há como sair da história para, de um ponto acima dela, atemporal, julgar o verdadeiro e o falso.
Isso porque os próprios critérios se modificam, não há um acesso privilegiado, um juiz supremo e superior capaz de decidir que esse modo ou aquele de julgar, esse valor ou aquele outro é o verdadeiro.
Isso significa que não há a Verdade, nem verdades diversas (o que é uma contradição), e sim que toda realidade passa a ser compreendida, interpretada e avaliada de formas diferentes, o chamado relacionismo.
Relacionismo quer dizer, todas as coisas, situações, conceitos, práticas se relacionam, são contrapostas, e, como é impossível anular diferenças e chegar a uma visão comum, entra em cena a liberdade, a criatividade, vastos territórios a serem cultivados. Isso em lugar da imposição de um ponto de vista apenas, universal e comum, que serviria de guia e ponto de partida para todos, independentemente de cultura, de época, de sociedade.
O relacionismo, aliado da livre escolha, adepto da pluralidade, não anula a possibilidade de entrar em acordo, de ouvir as diversas vozes, como pleiteia Habermas, e encontrar para elas não um patamar comum e universal, e sim bases sólidas, que estão abertas para novas formas de pensar, por que não, melhores, terreno em que possam eclodir transformações. A pergunta é, como saber o que é melhor se todos os acontecimentos têm inserção histórica, portanto, carregam o peso do que Nietzsche chamou de "humano, demasiado humano"?! 
Por meio das consequências decorrentes das tomadas de posição. Essas escolhas contribuem para o bem estar, para a não violência, para a integridade da pessoa, ou degradam, violentam, cerceiam a capacidade de escolher, ou pior, sonegam às crianças essa capacidade?
Desse modo, evita-se o irracionalismo, rejeitam-se as ideologias que tapam o processo histórico por meio da imposição de um credo único, de uma política ditatorial e discricionária, da visão totalitária de chefetes fascistas e cruéis.
Assim, a historicidade é o conceito principal da Filosofia da História, sempre aberta para a autoavaliação, para as mudanças, um antídoto contra o pensamento único. 
No caso específico do ensino de História, a visão pobre e contraproducente de que há uma classe a ganhar o paraíso, a dos trabalhadores e de que a economia deve ser socializada. Marxismo em versão antipedagógica.

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