quinta-feira, 9 de março de 2017

Heidegger e o nazismo

O Partido Nacional Socialista (PSN) atraiu Heidegger desde o início dos anos 1930. Em 1933, como reitor da Universidade de Freiburg, bastante reconhecido, e de confiança do partido, em seus discursos enaltece a filosofia que deveria voltar aos inícios gregos e daí saltar para o presente. A vontade de saber dos gregos como que ilumina o pensamento livre de deuses, e essa liberdade deveria servir como inspiração para que grupos revolucionários, na Alemanha e em conjunto com o "espírito alemão", se insurgisse contra os fracos do partido democrático, e ganhasse as forças do ser-aí (dasein), como nova "energeia". Povo que se fortalece, sem desculpas, sem consolos, assim entendeu Heidegger o papel da universidade e dele próprio.
A justificativa que apresentaria mais tarde, diante do comitê que investigou o nazismo e seus crimes, foram a miséria, o desemprego, crise política e econômica, motins acontecendo nas ruas, algo próximo a uma guerra civil.
Hitler seria o salvador, atraia pela força do discurso que inflamava o povo alemão no culto à pátria, ao novo Reich. Nessa época professores judeus foram demitidos, e campos de concentração começam a receber os considerados párias. A noção de raça pura passa orientar a política nazista.
Heidegger, caminhos, montanha, sedução; mais tarde reconhecimento do grande erro.
Heidegger estava, segundo seu amigo Karl Jaspers, fascinado pelo que considerava renovação de forças, o ser mesmo se realizava, e o que Heidegger considerava essencial nessa "política", seria a condução para maior responsabilidade, união, realização histórica. Discordou do que passaria a ser a base ideológica do nazismo, pureza racial, o arianismo. 
Mas, para sua amante e brilhante aluna, Hannah Arendt, isso era condenável, execrável. Os encontros eram programados por Heidegger e absolutamente às escondidas (ele era casado com Hermine, tinha filhos). Nessa época de ascensão do nazismo, ela havia rompido o relacionamento. Criticou acidamente o regime, que integrou a massa inteiramente manobrada com a classe dos ricos. Analisou as raízes do totalitarismo, não se deixou levar pelos apelos emocionais de que seria um novo impulso, uma nova nação, destino do povo alemão.
Hannah Arendt
Como mostra Rüdiger Safanski, quando do fim da II Guerra, Heidegger reconhece seu engano, seu erro, que ele sonhou filosoficamente e que isso é inaceitável em filosofia. O filósofo deve ser o investigador do tempo histórico, deve interpretar filosoficamente os acontecimentos. 
O que o fascinou foi a possibilidade de dissolver o ente, as coisas, no ser, e e esse novo ser viria imbuído de elevação, de autenticidade, heroísmo, ouviria o chamado da pátria, alçaria às montanhas.
Digamos que o filósofo aprendeu a lição.
Transcendência e fanatismo são incompatíveis, democracia e fanatismo são incompatíveis, liberdade e fanatismo são incompatíveis.
***
"A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes" (Hannah Arendt, in Origens do Totalitarismo).

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