quarta-feira, 10 de abril de 2024

O Rio de Janeiro de Jorge Ben Jor e o Rio de Janeiro de Oruan

Para uns poucos que não o conhecem, Oruam é um dos rappers mais ouvidos e vistos nas plataformas digitais.

Pois bem, qual é o sentido de comparar Jorge Ben (Jor) com o filho de Marcinho, "dono do complexo do Alemão" e sobrinho de Elias Maluco?!

Foi o contraste entre as letras de ambos, em particular com o samba de Jorge Ben, "País Tropical", com as de Oruan. Provavelmente dirão: nada a ver, impossível e mirabolante essa ideia, pois são dois estilos inteiramente diferentes.

O que mudou? E não foram só os estilos...

Moro, num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza (mas que beleza); em fevereiro tem carnaval. Eu tenho um fusca e um violão; sou Flamengo, tenho uma nega chamada Teresa. 

Jorge Ben enaltece o Rio, aquele do sol, o do mar, do Flamengo, e ele, dono de um modesto fusquinha, mas... ter uma "nega chamada Teresa", esse tipo de juízo em tempos de correção política, em tempos de cultura de cancelamento, em que a mulher aparece como posse, pode ser considerado ofensivo. Chamar de "nega" não pega bem, além disso a mulher é vista como um item em meio a carro e violão.




Mas, que tal comparar com o sucesso nas redes, com os ganhos milionários do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruan? Com 6,8 milhões de ouvintes mensais, 5,6 milhões de seguidores no Instagram, suas letras enaltecem não as belezas do Rio, nem certa mulher, que seria a sua "nega Teresa". Ele enaltece as minas, "facinho elas entra no clima", "tira o sutiã, tira a calcinha", exalta o desejo de a menina aparecer no Instagram, seminua, maquiada, unhas enormes e brilhantes, enfim, o que o politicamente correto chamaria de "mulher objeto". Ora, essa mulher, alvo de desejo, para dizer o mínimo, esse tipo de garota é cantada, assim as "mina" desejam ser e aparecer.


Oruam, visual é fundamental


Novamente, o que mudou? 

Em poucas décadas surgiram as práticas de cancelamento devido ao desrespeito à cor, as críticas à mulher-objeto, pois passamos a viver e conviver em uma sociedade que combate o racismo, e isso é um avanço, sem dúvida, porém surgiu outro lado. O lado de um tipo de sociedade que exalta o crime, o tráfico, na qual os morros cariocas se tornaram espaço e lugar de gangues rivais, que brigam entre si, enfrentam a polícia sem medo, ultra armados, ousados e perigosos. E, é esse lado que o rapper canta em suas letras. Com o corpo todo tatuado, preparo visual para chocar, para Oruan agredir não faz mal algum. A plateia aplaude, é legal "as mina entrar no clima".

Em contrapartida, o sambista negro incluir entre suas posses um fusca, um violão e sua mulher, isso ficou lá atrás, bem atrás...

O rapper faz parte de uma contra cultura, dirão, e as redes sociais impulsionaram as mais variadas manifestações. Há total liberdade, justamente a liberdade de expressão. Este blog é um exemplo disso. Resta ficar atentos, saber julgar, avaliar.


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