sábado, 20 de janeiro de 2024

Conflitos religiosos à luz de "Totem e Tabu" de Freud

 A obra de Freud "Totem e Tabu" (1913), traça pontos em comum entre a mentalidade selvagem e os neuróticos. Neste estudo, Freud utilizou pesquisas de antropólogos a respeito da origem do culto a totens, das proibições e tabus.

Para o psicanalista, o neurótico sofre de infantilismo psíquico, quer dizer, sua mente se assemelha à mente primitiva. O tabu é anterior às religiões, tem poder mágico, dita as proibições, origina-se tanto da veneração à itens da natureza, aos animais, como do horror que os mesmos produzem. O paralelismo com a neurose pode ser encontrado no psiquismo que sofre de distúrbio obsessivo.

No animismo, o mundo é visto como povoado por seres benévolos ou malignos, as almas das pessoas podem migrar para outros seres humanos e são capazes de atividades espirituais. O sono, o sonho, a morte levam à crença de que outros seres, inclusive a natureza são dotados de alma (anima).



Totens liberam forças da natureza

Haveria três visões de mundo: a animista referida acima; a religiosa; e a científica. 

A invocação mágica dos espíritos requer a crença neles, as coisas ficam recuadas e para trás diante da ideia das coisas, que é mais forte, e que Freud chama de "onipotência dos pensamentos". No neurótico  "a realidade do pensar e não do viver" prevalece, assim como o primitivo, o neurótico crê mudar a realidade apenas com seus pensamentos, ele busca a proteção de fórmulas mágicas.

Para o animismo uma parte da potência do pensamento é reservada aos espíritos, caminho que leva "à criação de uma religião" (p. 95).

Assim, as religiões, a invocação do sagrado, as revelações, são decorrência do primitivo animismo.

A pergunta que faço, não seriam as religiões um dos reforços da violência que se assiste há séculos na história da humanidade?

Os conflitos religiosos, especialmente aqueles em que se defrontam duas crenças opostas e incompatíveis, não teriam como cruel e abominável consequência, as guerras, genocídios, perseguições e matanças?

Ver a realidade, como seria o caso da visão de mundo "científica", ou mais apropriadamente, a visão que busca causas e consequências, esta parece que fica à margem.

Apenas na arte, com seu efeito lúdico, é liberada a "onipotência do pensamento". 


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