quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Ser criança no Borundi

 Alguns dias atrás, em reportagem de TV5 Monde, o depoimento de uma mãe: a filha de cinco anos tinha sido violentada e morta. Enquanto isso, os demais filhos chafurdavam no lixo e na lama. No lixo em busca de algo aproveitável, comida inclusive.

A mãe olha para o repórter e diz que não possui nenhuma foto da menina para mostrar como ela era. Talvez no intuito de alguém saber quem e como era a garota e assim esperar algum resultado, uma denúncia. Ou talvez para lembrar dela, o que é duvidoso tendo em vista as condições de extrema pobreza, quando há outras prioridades, entre elas, sobreviver.

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O Borundi é considerado o país mais pobre do mundo, a população é em sua maioria hútu, são 12,5 milhões de habitantes, em um território pequeno, encravado na parte central-sul da África, a oeste fica a nascente do rio Nilo. Ali se encontra o maior e mais profundo lago de água doce, com 16 % da água doce do mundo e que se estende por outros países. No Borundi é aproveitado para pesca, contudo perigosa dada a precariedade das embarcações e a ameaça de crocodilos.

A produção agrícola exportada é maior do que a produção para consumo, escassa, e carregada nas costas ou bicicletas para os mercados, quase que exclusivamente de cereais, frutas e verduras. Há fome generalizada, as casas são choupanas insalubres, as autoridades em especial policiais corruptos arrancam o que podem do pouco ganho, em média 10 dólares por mês. O desmatamento, a péssima qualidade da saúde pública em um território densamente povoado, contribuem para a miséria, mortalidade infantil e uma expectativa de vida de apenas 45 anos.

Uma das fontes dessas informações é um vídeo no You Tube, "Como é viver no país mais pobre do mundo". O entrevistador pergunta quantos filhos certa mulher tem, ela "acha" que são seis. Em outra choça dormem no chão oito pessoas, crianças morrem de repente, há tráfico de crianças para Uganda e dali para países árabes.

Apenas 13% têm acesso à internet. Daí o espanto e a indignação que produz a reportagem referida no início, sobre a mãe cuja filha foi estuprada e morta, e dela não há uma foto sequer, importa enfatizar isso.

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Pois bem, o contraste, a abissal diferença com relação a outras culturas e sociedades, são espantosos.

Para ficar apenas no exemplo da ausência de imagens, diariamente, por motivos e situações desde a mais banais e corriqueiras, até os mais relevantes e impressionantes acontecimentos, as fotos, as imagens, os vídeos, invadem nosso dia a dia.

As crianças são clicadas o tempo todo, desde que nascem, durante todo seu desenvolvimento, suas transformações, tudo é captado por imagens. 

E daquela menina, nenhuma foto...

(Sem imagem para ilustrar esta postagem).

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