quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Quando a fortaleza desaba

 Uma das virtudes, segundo Aristóteles, é a da fortaleza. Ser virtuoso hoje tem uma conotação de fraqueza, de ser certinho, até mesmo carola, e, quanto ao termo "fortaleza", o que vem à mente é a força física, músculos exercitados. 

No sentido ético, a fortaleza é uma virtude, quer dizer, um bom hábito, algo que se pratica, que se manifesta nas ações, e que, ao ser praticada torna as pessoas mais justas ou do contrário, injustas. Sempre mirando o meio termo, nem falta, nem excesso, é certa "disposição de caráter que torna alguém bom, e que o faz desempenhar bem a sua função" (Aristóteles), requer sabedoria, não a intelectual e sim a sabedoria prática.

A fortaleza é uma virtude das mais excelentes, tem a ver com a firmeza de caráter, de enfrentamento, de coragem para tomar decisões, mesmo nas situações mais difíceis. A fortaleza se diferencia de dois opostos, o lado fraco que é o medo, e o lado extremo que é a confiança desmedida, temeridade, audácia, algo comum em nossos dias, talvez possamos ainda incluir nesse excesso, o exibicionismo.

Esses seriam os aspectos morais dessa virtude, a fortaleza.

Há outro aspecto, quase invisível, a fortaleza representada pelo papel da mulher.

Fortalezas são planejadas e construídas para durar, para enfrentar o inimigo, para vencer, nunca para sucumbir.

Mas é possível que fortalezas desabem. 

Quando na cozinha não se sente mais o cheiro bom da comida, daquele macarrão com frango; quando o avental fica dependurado, sem uso; quando se ouve na casa apenas o ruído do relógio; quando na cadeira de balanço o corpo cansado se larga e o olhar perde a vivacidade; quando essa cadeira não mais conforta alguém; quando os passos ágeis se tornam lentos e pesados; quando as tarefas e afazeres cotidianos, antes executados mesmo inúmeros e incessantes, agora representam um fardo.


      O vazio

 O que houve? Desemparo, as paredes racharam, os alicerces ruíram. 

E esse é um lado na vida das mulheres, pouco ou quase nada considerado.

O outro lado é muito mais visível, mais cruel e muito bem conhecido. Vai além da perda de sentido ou da falta de reconhecimento. É o modo como as mulheres precisaram se submeter a um papel, ou são submetidas ao papel de coadjuvante, devem obedecer ao comando, ao "conheça seu lugar". Não são ouvidas e nem respeitadas, estão sob o jugo do autoritarismo.

A muitas dessas mulheres, a violência não deu a chance de construir ou reconstruir sua fortaleza.

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