domingo, 10 de outubro de 2021

"Se eu quiser falar com Deus"', inspirada letra de Gilbert Gil

 Ouvir e escolher músicas se tornou corriqueiro e acessível. Costumo cozinhar ao som do que o momento inspira. Dia desses  uma surpresa foi a letra da canção cujo título motiva a postagem.   

"Se eu quiser falar com Deus tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz, tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós dos sapatos, da gravata, dos desejos, receios ... tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus ... tenho que aceitar a dor, tenho que comer o pão que o diabo amassou, tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão dos palácios, dos castelos suntuosos, do meu sonho, tenho que me ver tristonho... tenho que me achar medonho, e apesar do mal tamanho alegrar meu coração. Se eu quiser falar com Deus, tenho que me aventurar, ...tenho que subir ao céu sem cordas pra segurar, tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar para a estrada que vai dar em

nada, nada, nada do que eu pensava encontrar".

Deus presente nas mais diversas e corriqueiras atividades humanas, nos mais simples desejos e sentimentos, em despojar-se de riquezas, na raiva, nas injúrias, no silêncio e no recolhimento. Precisamos de silêncio, tão difícil de encontrar... Mas pode ser que se nos abandonarmos ao estar a sós e livres do que nos prende, do que nos corta caminhos, poderíamos alçar voos mesmo sabendo que a nós isso é impossível.

A condição humana pode ser nobre, mas pode igualmente ser essa a condição que requer humilhação, pode ser que exija o reconhecimento da fraqueza, do terrível, do abjeto e mesmo assim precisamos de alívio para ir adiante, tropeçar, levantar, prosseguir. 

Finalmente, onde estaria esse nosso Deus, é a pergunta que comanda a letra. Estaria em nossas próprias dificuldades, desejos, sonhos, até mesmo para, sem cordas, subir aos céus.

No final pertencemos à estrada da vida que não vai dar em nada, pois antes de cada um de nós sermos, somos nada. Depois de irmos, somos nada. Afinal, o que pensáramos deter e reter são ilusórios.

As versões para entender a mensagem de Gil devem e podem assumir os pensamentos e projetos de cada um. Dei a minha versão. É possível que a letra inspire nada, nada, nada... 

 

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