domingo, 3 de janeiro de 2021

Kant pode ser considerado ateu?

 Em postagem anterior, discuti o ateísmo entre os filósofos. E antes, a metafísica para Kant. Ficou em suspenso expor o que Kant defendeu como religião e fé em Deus na Religião nos limites da razão pura. 

Tendo sido criado num ambiente de fé religiosa, Kant conhecia o valor da fé e da crença em Deus. Mas, Deus é impensável e inatingível por meio da razão pura, das formas puras a priori do conhecimento, necessárias para pensarmos e termos experiência do mundo que nos rodeia. E como fica a religião?

Meu saudoso professor, Padre Henrique Dreher, não admitia o tipo de metafísica kantiana, sustentava o tomismo que defende os cinco caminhos, todos eles racionais, para provar a existência de Deus (ver em postagem sobre as cinco vias de São Tomás). Tratava-se de uma metafísica transcendente, nós, seres humanos, somos dotados de razão e esta provê argumentos, independentemente da fé. 

Para Kant, o caminho para Deus é interior, um reflexo de nossa vida e de nossas práticas. Em geral se crê que é impossível que a beleza e o ordenamento de tudo o que existe não tenha uma causa superior, mas, segundo Kant isso não é prova de que Deus existe e sim a constatação de que há um encadeamento de causas na natureza.

A nossa força de vontade moral, o sentimento pleno de que se deve agir bem, de acordo com princípios, a prática da liberdade e da autonomia, o esclarecimento, são a fortaleza da moral, agir como se nossa ação pudesse servir de modelo a todos os demais.

Ao lado dessa moral do dever, há a religião, uma questão de fé, de sinceridade do coração, sem contudo requerer aparatos e rituais, sem depositar em Deus a responsabilidade pela nossa ação, nós é que devemos ser nossos próprios legisladores. "A ação pode e deve ser aperfeiçoada, há valor em ter esperança na realização do reino de Deus na Terra, entre os homens. Esse aperfeiçoamento ético decorre de obediência às leis morais sem coerção. Trata-se de uma concepção de religião de pura fé moral, as prescrições doutrinárias são secundárias. Orações e sacrifícios são ilusórios, frutos de superstição" (in 15 Filósofos, Vida e Obra, p. 211).

Aprecio essas reflexões, elas não nos amarram, não nos prendem, não nos culpam, não nos prescrevem castigo e nem prêmio eterno. Nós somos responsáveis e livres. Deixar de lado o dogmatismo, reconheço, é bem difícil, mas vale a pena tentar...

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