sexta-feira, 31 de julho de 2020

O revolucionário Francis Bacon e a crise pandêmica

Francis Bacon (Inglaterra, 1561-1626), pouco valorizado entre os filósofos, colaborou, entretanto, com ideias originais que mostram o poder da ciência, do método indutivo e do combate a preconceitos.
À sua época reinava Elizabeth e a Inglaterra experimentava um grande progresso no comércio marítimo e nas indústria manufatureiras. Embora a cultura e a mentalidade medievais ainda deixassem resquícios com mitos, fábulas e magia em meio à nascente ciência, com a astronomia e pesquisas sobre a natureza da matéria, estas últimas prevaleceram.
O interessante é que o saber científico e o saber técnico se tornaram codependentes, por exemplo, nas instalações de maquinário nas manufaturas, como a da lã, no desenvolvimento da indústria naval e seus diversos instrumentos.
Na obra "Novum Organum" Bacon expõe as regras, métodos e objetivos da ciência, passando em revista crítica noções metafísicas tradicionais gregas e medievais, pois estas travam a pesquisa, a prática científica, a investigação da natureza por meio de um método em tudo diverso das deduções lógicas, do silogismo, das ideias, da pura retórica.
Entendia Bacon que o Estado e as ciências deveriam buscar resultados práticos para todos os homens, e isso por meio da investigação da natureza, da observação e do compilamento dos fatos observados.
Conhecimento é poder, e ater-se à natureza permite comandar a natureza, quer dizer, observar, registrar, induzir significam poder usar tais conhecimentos para a prática humana e seu progresso.
A lógica dedutiva aristotélica e escolástica se parecem com a aranha e a teia que sai dela mesma, fica-se enleado a ela. Já a lógica indutiva, de observação e de intervenção na natureza, assemelha-se à abelha que age, ataca, constrói, e de seu trabalho resultam cera e mel.
O novo método deveria igualmente afastar-se da religião, das inúteis disputas retóricas, de conceitos abstratos como substância, qualidades como leve, pesado, raro, seco, etc., que permeavam a cultura medieval.
Ir às coisas e delas retirar algo prático, começar com as experiências sensíveis e prosseguir para as generalizações, introduzindo ordem e evitando fantasiar ou imaginar. Na ciência se usam a observação, a coleta e organização de dados. Evitar preconceitos é o outro lado do método indutivo.

Evocar F. Bacon em nossos dias pandêmicos vale a pena! Nunca se viu tanta controvérsia a respeito de medicamentos e procedimentos de cura de uma doença, em parte pelo excesso de informação e por toda sorte de preconceitos, entre eles o de que a ciência pode tudo e tem a palavra final.
Mas e quando nem entre os cientistas (ligados ou não a laboratórios poderosos) existe consenso, e quando parece que o socrático "nada sei" prevalece, esse não saber infelizmente não tem a ver com a douta ignorância do sábio filósofo e sim com o fato de que sabe-se pouco mesmo, comunica-se mal, tratamentos e remédios entram e saem da berlinda, e, principalmente entra em cena o jogo do poder.
Poder econômico, poder político, poder midiático e social. 
É frequente ouvirmos declarações de médico fulano de tal, que aplicou tais medicamentos e nenhum paciente morreu de Covid-19...
Então por que esse tratamento não se tornou obrigatório?
Interesse de grandes laboratórios, que, diz-se, já teriam a vacina pronta mas não divulgam em nome do lucro!
Impressionante, mas basta ler ensinamentos como os de Bacon para entender que o poder em jogo, o único poder em jogo, é o do conhecimento, com seus métodos e seus resultados, e a humildade de reconhecer que se sabe pouco. A ciência não é absoluta, mas é necessária!
Releiam os parágrafos acima com o pensamento de Francis Bacon e tirem suas conclusões...

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