quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Qual o sentido da vida?

 Impossível uma resposta única, essa é uma questão absolutamente pessoal, ou, pelo menos, deveria ser.

Como a maioria delega a resposta e a responsabilidade a um credo, a um líder, a alguém próximo ou superior, a uma seita, a um partido, ao acaso, ao além, ao divino - , em todas essas situações há uma resposta pronta e satisfatória.

Mas viver para um ideal não é o mesmo que viver segundo um credo ou partido. Isso porque credos e partidos comprometem de modo
cego e irrestrito, assim, o ideal deixa de ser pessoal. Por sua vez, se a pessoa é um criador de valores, se suas tarefas e objetivos os mais banais e cotidianos são permeados de um significado pleno, atento a si, aos outros, seus familiares, aos que se foram, aos que dependem de você, de sua dedicação, afeto e compreensão, então essa abertura para o outro, essa visão do todo, esse estar no mundo, o compartilhamento de sentimentos, e porque não de amor, enraíza, dá frutos, enriquece, enfim, faz sentido, dá sentido à vida.

E, de onde surge essa valorização da vida?

Do aprendizado, do simples olhar ao seu redor, da fé que não cega e sim daquela fé capaz de acender uma luz interior, e chegar àquilo que os estoicos almejavam, a tranquilidade da alma.

Alma? Sim, não aquela predestinada a gozar o céu ou a penar no inferno, e sim a alma cultivada como se cultiva um jardim, com cuidado, com constância, com a capacidade de esperar que o grão germine, que se possa colher as flores e admirá-las.

Somos grãos de poeira no universo. Somos igualmente responsáveis pela brutalidade que explode cidades e as transforma em grãos de poeira.

Onde então o sentido no rosto sofrido de uma criança refugiada? A questão do injustificável sofrimento, do mal, da dor? A inescapável dupla face da vida,  ruína e reconstrução, egolatria e desprendimento, ignorância e sabedoria, queda e ressurgimento. Essas oscilações nos mantêm por tênues fios, por busca e por decepções, essa nossa marcha requer cuidado, esforço como se fossem sopros, os sopros vitais.

As viagens, os viajantes - tantas espécies deles!

Tanta nacionalidade sobre o mundo! tanta profissão! tanta gente!

Tanto destino diverso que se pode dar à vida,

À vida, afinal, no fundo sempre, sempre a mesma!

Tantas caras curiosas! Todas as caras são curiosas

(...)

Tão complicadamente simples, tão metafisicamente tristes!

A vida flutuante, diversa, acaba por nos educar no humano.

Pobre gente! pobre gente toda a gente!

(Fernando Pessoa)

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