domingo, 1 de março de 2020

O que é o cogito para Descartes?

Descartes (1596-1650) apreciava viajar, não só pela Europa, mas também e, principalmente, para dentro de si mesmo.
O si próprio, o seu interior, o seu eu foi a fonte para sua metafísica, base para o racionalismo. Isso quer dizer que para buscar os fundamentos do saber, para chegar à verdade, bastaria encontrar um porto seguro, algo sobre o que não restasse dúvida alguma.
Tudo o que nos cerca pode tanto ser, como deixar de ser. Então por aí não se chega à verdade. De início Descartes pressupôs que nem mesmo operações matemáticas estão a salvo, pois pode-se supor um Deus enganador. 

Foi então que o filósofo decidiu que o melhor caminho, ou seja, o método seguro, seria duvidar de tudo. Exceto de que ele próprio estivesse duvidando. Impossível duvidar de que se esteja praticando o ato de duvidar e tal ato implica necessariamente pensar. A atividade do pensamento é o porto seguro da metafísica, a base para todas as ciências e conhecimentos.
Cético algum pode abalar a certeza dessa verdade: "Penso, logo existo".
Descartes foi além, essa certeza permite deduzir outras evidências, a de que era impossível que ele nada fosse, e do que ele  consistiria?
"De uma substância cuja essência ou natureza era apenas a de pensar e que para existir não tem necessidade de lugar algum e não depende de nada material".
Esse racionalismo, a distinção radical entre corpo=matéria / alma=espírito não serviu para o filósofo resolver questões religiosas, místicas, e sim racionais, a busca da evidência, que é própria do ter ideias e culmina na certeza, que é um estado psicológico de satisfação interior.
O caminho para a metafísica vem das evidências, das ideias claras e distintas, que abrem caminho o método das demonstrações seguras, ou seja, a matemática.
E é por essa via que ele chega à certeza de que há um Deus não enganador, espírito, que existe, uma natureza a mais perfeita de todas, portanto, dotada da mais alta perfeição que é a da existência.
Tudo se conecta em Descartes com as noções de mente, ideia, certeza, verdade, de um lado, e do lado oposto, a matéria sensível, descartável, e tudo que for fruto da imaginação.
A reta razão só pode buscar fundamentos para a verdade, nunca a vontade nem os sentimentos.
Portanto, racionalismo, o pensamento, o cogito, o eu pensante.
Essa concepção nasceu juntamente com o mecanicismo, a doutrina de que a matéria se movimenta como um mecanismo com leis próprias. E, como o espírito ou cogito não segue leis mecânicas, entende-se como foi possível conceber o espírito independente do corpo.
Em contraste, pela concepção atual de evolução, de matéria como energia, a separação corpo/espírito está ausente da metafísica desde Hegel, Nietzsche, e tantos outros filósofos do século XX.

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