segunda-feira, 9 de março de 2020

O QUE DIZ HEIDEGGER: SOBRE "VERDADE"?

O mínimo que se pode dizer sobre a concepção de Heidegger de verdade, é que ela é original. 
Em primeiro lugar porque ele dispensa critérios como o do empirismo, de que verdade depende de contato das sensações com o mundo; discorda dos conceitos científicos de verdade, como o de comprovação por testes e cálculos; discorda de que a verdade seja algo inefável, divino, inalcançável para nós, humanos; discorda do conceito aristotélico/tomista, de que verdade é o acordo entre o intelecto e a realidade dos fatos; discorda do conceito estético, verdade é a da arte, o que nos deleita. 
Evidentemente discorda do conceito transcendental, aquele em que a verdade passa pelos filtros dos recursos puros da razão.
1889-1976
O que é então a verdade? Qual é a sua essência?
Tal como os filósofos analíticos, a  verdade requer a linguagem, mas diferentemente deles, a linguagem não é formal ou lógica, não forma uma quadro da realidade suscetível de ser formalizado.
A linguagem para Heidegger enuncia algo, e a isso reagimos, damos uma resposta, abrimos caminho para certo ente, para certo modo como algo se apresenta para nós, naquele dizer, e isso denota liberdade.
Como assim? Então verdade e liberdade se condicionam mutuamente?
Sim, é que liberdade para Heidegger não significa ser solto, independente, e sim estar aberto para a recepção do mundo, para as situações da existência cujo sentido exige verdade como liberdade. O avesso da verdade como desvelar é o encobrir, o pôr um véu, e fazemos isso o tempo todo...
E qual é o limite desse livre apresentar do ente a nós?
O limite não é o impensado, o limite é não podermos sair de nossa condição humana e transcender a totalidade do mundo, dos entes, de tudo o que há. Estamos sempre imersos em nossas situações, nossos objetivos e projetos nos lançam para o aí no mundo.
O mistério do ente em sua totalidade acaba por ser ignorado, pois somos atraídos por nossos problemas, pelo dia a dia, pelas circunstâncias cotidianas.
Nosso modo de ser hoje em dia passa pelos instrumentos, pela tecnologia, pelas máquinas, pelos meios de transporte.
Estamos longe e esquecidos dessa verdade como liberdade, a essência nos foge. Não porque seja inacessível e sim porque nossa lida nos amarra, e a busca pela essência acaba por se confundir com misticismo, exercícios da mente, fé e apego a crenças e mitos.
Difícil retirar essas camadas que impedem chegar à essência, o nosso modo de ser aberto pela linguagem e o acesso à verdade.

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