segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Kant e as "provas" da existência de Deus


Até hoje temos uma forte imagem teológica do mundo, não era diferente à época de Kant (século 18). Sua família lhe deu uma sólida formação religiosa. Mas, para Kant, a noção de Deus e as provas de sua existência estão fora dos limites da razão pura, por meio dos conceitos do entendimento é impossível provar a existência de Deus. Kant rejeitou o argumento ontológico de Descarte, pois formular um juízo acerca de um ser perfeito não leva à conclusão de que ele exista, nem à necessidade desse Ser. Os juízos analíticos como as afirmações lógicas não podem afirmar existência de algo, e os juízos sintéticos (os da experiência) nada podem fazer, pois Deus não é um objeto com o qual se poderia lidar.  
O conceito de um ente supremo é uma ideia que não leva à ampliação de nossos conhecimentos com relação à realidade. Kant compara alguém tornar-se rico por meio apenas de ideias, como se um negociante enriquecesse juntando zeros ao dinheiro em caixa.
Kant rejeita também a prova cosmológica da existência de Deus, que pressupõe um ente necessário como causa de tudo o que existe, mas partir do não necessário e contingente concluir para o necessário só é viável em nossa realidade concreta, em nossas experiências. E diverge da prova de São Tomás, de que a série de seres contingentes exige um ser absolutamente necessário em seu início, bem como da noção de causa primeira, presente tanto em Aristóteles como em São Tomás, pois isso não é um requisito de nosso mundo de experiências. E mesmo que essa necessidade de uma causa primeira fosse lógica, ela não se traduz como síntese para agrupar conhecimentos no campo transcendental (ver postagem a esse respeito). 
Quanto à prova de que tudo na natureza tem uma finalidade para provar a existência de um ente superior que seria a causa dessa ordem, apesar de sua naturalidade e simplicidade devido às pessoas em geral acreditarem que a ordem na natureza tem uma causa superior, isso não prova que Deus exista, apenas ressalta a própria ordem natural. 
Então Kant seria ateu?
Não, ele envereda pela razão prática, pelo sentido moral de nossas vidas, nossa necessidade de um suporte final para tudo o que existe, e isso é algo que está fora da razão pura, é como que um "abismo", algo "inescrutável", isto é, misterioso.
Nosso entendimento está preparado para o uso transcendental da razão com suas sínteses e conceitos. Já o uso transcendente, que é o mais comum, leva a pensar que pelo fatos de as coisas existirem, deve haver um causador supremo. Mas aí se entra em outro território,  o da razão prática, que leva para uma certeza moral acerca da existência de Deus. O transcendental difere do transcendente, razão pura difere de razão prática, princípios do conhecimento diferem da fé religiosa. 
Assim, uma vez mais Kant revoluciona a Filosofia. O que podemos conhecer, difere do que devemos crer e praticar.







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