sábado, 25 de agosto de 2018

As provas da existência de Deus para Descartes


Para Descartes Deus é uma evidência. Recorro ao meu texto sobre "15 filósofos" (ainda não publicado) para explicar melhor essa afirmação.
Se ele, Descartes, tem a ideia de Deus, e ele próprio não é Deus, quem pôs essa ideia em sua mente? O raciocínio de Descartes é o seguinte: Eu não posso ser o autor de minha própria existência, pois se eu fosse, não teria criado a mim mesmo como ser imperfeito. Ora, se penso, então existo, portanto o ponto de partida é essa certeza, a de nossa existência. 
1596-1650
Mas, e se esse Deus for desconhecido e puder abalar nossa capacidade racional? Se for um Deus enganador?
Para sair dessa possibilidade primeiro é preciso saber se Deus existe. Conhecer é mais perfeito do que duvidar, e Descartes indaga de onde veio esse aprendizado, o de pensar em algo mais perfeito do que ele. Pensar assim leva à evidência de um ser com natureza mais perfeita do que a nossa. A respeito de muitas coisas podemos nos enganar, mas não com "a ideia de um ser mais perfeito que o meu: pois que ela viesse do nada era algo manifestamente impossível [...], de modo que restava que ela tivesse sido posta em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que eu era, e ainda que tivesse em si todas as perfeições de que eu poderia ter alguma ideia, isto é, em uma palavra, que fosse Deus", escreveu Descartes.
Deus não poderia ser composto de corpo e espírito, pois isso revelaria imperfeição. Todo ser que depende de outro para existir precisa do poder de Deus, em todo momento. Examinando a ideia que ele tinha de Deus como ser perfeito, o filósofo conclui que a existência está incluída nessa ideia, e isso é tão certo quanto as demonstrações da Geometria. Impossível que um ser perfeito não tenha necessariamente a perfeição da existência
O nada não pode produzir coisa alguma, mas também o que é mais perfeito, isto é, que contém em si mais realidade, não poderia depender do menos perfeito. Essa é uma verdade clara e evidente em seus efeitos. As ideias que se encontram no pensamento têm realidade objetiva, e a ideia de Deus é a mais evidente e a mais objetiva de todas. Seria estranho que uma criatura tivesse essa ideia de Deus no pensamento, sem que Deus, ele próprio, não existisse.  
A razão busca sempre um fundamento de verdade. Deus não teria posto em nós ideias claras e distintas sem um fundamento de verdade, pois ele é ser perfeito e verdadeiro. 
O erro provém apenas da vontade, esta pode levar ao engano, já a luz natural da razão jamais. E a razão foi criada por Deus, o entendimento humano é finito, por isso não compreende muitas coisas. Entretanto, é o entendimento, a razão com sua luz natural a única via que leva ao propósito inicial das meditações de Descartes: jamais formular juízo a respeito de coisas cuja verdade ele não conhece clara e distintamente.
E a existência de um ser perfeito é uma ideia concebida clara e distintamente.

***
A argumentação precisa encadear ideias indubitáveis. No aconchego de seu quarto, o filósofo encadeia pensamentos que conduzem à noção de perfeição e desta para a existência de um ser perfeito. Um Deus geométrico que não requer provas no sentido de ir às obras da criação, como no cristianismo. A razão se basta.

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