terça-feira, 5 de março de 2013

A covardia moral: Habermas e Yoani Sánchez

Há covardes que se rendem às dificuldades e obstáculos; tudo temem, são medrosos, "maricas" como se dizia. Não confundir com pessoas cautelosas.
Mas os piores covardes são os que praticam a covardia moral. O caso mais recente e notório foram as ofensas com que foi recebida a blogueira Yoani Sánchez no Brasil. 



Uma visita de cortesia e agradecimento que se tornou um caso de humilhação e de impedimento de livre comunicação. Um movimento orquestrado pela embaixada de Cuba arregimentou grupos de intolerantes que tentaram impedir que uma moça simples, corajosa, sincera e muito bem intencionada fosse ouvida e respondesse a questionamentos.
Evidentemente não era "agente da CIA" (como que até agora não foi presa?!). Mora em Cuba, ama seu país, denuncia a falta de perspectiva, de liberdade, teve que insistir muito para conseguir visto de saída. Seu país é uma ditadura, o povo permanece oprimido, e, se educação e saúde contam pontos, há pobreza exceto pelo setor turístico.
O embargo dos EUA prejudica? Que tal comercializar apenas com os países "comunistas"? A antiga URSS abandonou Cuba a sua própria sorte, não tinha mais como subsidiar a importação de açúcar. Toda a população sofreu.
E quanto às perseguições de dissidentes? Ser poeta e gay, por exemplo, pode significar prisão e tortura!
Por favor, senhores pseudo militantes a mando da embaixada de Cuba com assentimento do PT: antes de vociferar contra a blogueira, cuja coragem moral ficou evidente em suas declarações sobre a necessidade de diálogo, isto é, tolerância e compreensão, direito de resposta, esclarecimento das denúncias de violência, seria proveitoso que o bando de paus mandados soubesse do seguinte, pelo menos:
- que em Cuba não há lugar para a oposição;
- que progredir por meio de trabalho e empreender por meio da livre iniciativa é difícil, o governo apenas recentemente tem permitido ser proprietário de uns poucos meios de produção (solo para cultivo de hortaliças, por exemplo);
- que eles precisariam contrabandear os tênis de marca que certamente estavam usando quando de sua gritaria, seus celulares, e como ficariam os seus sonhos de consumo?
- provavelmente não usariam luxos como aparelhos nos dentes (aliás, faltam dentes na boca de Yoani);
- seria excelente uma temporada em Cuba para sentir in loco como vive a maior parte da população
- que liberdade de expressão não pode ser confundida com manifestação agressiva pois esta tolhe o direito de resposta.


Por que Habermas nesta postagem?
Em sua teoria da ação comunicativa, Habermas considera que a razão progrediu, que o terreno favorável são as democracias. Nas ditaduras, como a de Cuba, há sempre apenas um lado, imposto autoritariamente. O diálogo entre pessoas e grupos inexiste, a livre comunicação é bloqueada. Ora, a ação estratégica cabe exclusivamente nas esferas política e econômica, onde prevalece a disputa de interesses.
Em contraste, na ação comunicativa deve haver reconhecimento recíproco de direitos e deveres, de respeito, por meio dela pessoas dialogam com informação, com intenção sincera, seguindo diretrizes sociais que alçam todos à condição de cidadãos. Em simples palavras, a ação comunicativa permite o entendimento entre as partes, o que é essencial às democracias modernas. Esclarecer, ouvir o outro, suas razões, expor as suas próprias razões, enfim, argumentar. Na argumentação ficam de fora todo tipo de autoritarismo, intolerância, imposição.

Esperemos que a lição tenha sido aprendida, que o PT, que estava por detrás das manifestações contra Yoani, retorne a pelo menos alguns de seus princípios éticos. Se não for pedir demais!
Em tempo: assistam ao filme de Julian Schnabel, sobre a perseguição ao poeta cubano gay Reinaldo Arenas.

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