sábado, 25 de dezembro de 2010

Tempo e temporalidade


A maioria dos filósofos se debruçou sobre esse intrigante e essencial problema: o que é o tempo?

Passagem, movimento, eterno, infinito, retorno, progresso, mudança são conceitos que acompanham o de tempo e ajudam a entender melhor o que é, como é o tempo.

Aristóteles o define como "medida do movimento segundo o antes e o depois", quer dizer, um movimento qualquer de um corpo no espaço se inicia, pode ser observado e calculado, e depois cessa. Essa possibilidade de medir o movimento, é o tempo. Prático, sem dúvida, mas não responde a alguns nossos anseios, digamos, metafísicos.

Para Sto Agostinho há apenas o presente, o passado já não conta (pois passou) e o futuro ainda não chegou. Mas como o presente se esvai, os momentos são todos passageiros, o que resta?

Ciclos de evolução de todas as coisas e a mudança levam a discussão para a história. História do universo, sem começo e sem fim, infinito, em expansão constante (será?); história do planeta Terra, que antropólogos e biólogos pesquisam e que se inscreve nas evidências arqueológicas; história dos feitos da humanidade, escrita em documentos, trasmitida nas diversas culturas, linguagens, hábitos e mitos; e tempo existencial, o do nascimento, vida e morte.

A vivência no tempo, é também a vivência do tempo.

Explico: "Estou sem tempo", "Se apresse", "Ainda há tempo", "É cedo", "Tarde demais", "Tempo esgotado","Chegou a hora", estamos imersos e dependentes do tempo, tempo como sucessão cronológica, medida pelo relógio e pelo calendário. Mal nasce e a criança é mergulhada em escalas, e de adapta aos ciclos de fome e sede, dia e noite, cedo, tarde, agora, nunca. Além disso, nossas vidas se estendem na temporalidade, no tempo existencial, aquele que não é medido. Fugir do tempo em uma suposta eternidade, é impossível.

Daí a conclusão de Heidegger, filósofo alemão cuja obra mais conhecida é "Ser e Tempo" (1927): o ser humano é ser no tempo, isso define nossa essência. Os filósofos antigos pensavam o tempo como exterior ao homem, Heidegger pensa o tempo como integrante da existência. O dom dos homens é o de se dar como presença. Traduzindo: podemos "agarrar" nosso ser exatamente no momento em nos percebemos como dádiva da temporalidade.

Não há férias do tempo, ele só pode parar, em certo sentido, pela repetição, pela memória, e mesmo quando se preserva o passado, ele se desgasta. REviver o passado, só se o fizermos no presente. Transitamos pelo caminho deixado pela memória e dependemos de nossos pro-jetos para o futuro. Talvez por isso a perda da memória seja o mesmo que a perda de nosso ser humano, ser no tempo. Talvez por isso DESesperar seja perder a capacidade de esperar, de confiar.

Sujeitados ao tempo, ele revela nossa fragilidade.

7 comentários:

  1. Profª. Inês,
    um texto lúcido e preciso!

    O blog ficou belíssimo com esse novo template.

    Abraços e feliz 2011!

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  2. Gentil, quando vc menciona Hegel e Adorno, fica evidente outra concepção de história, a dialética que culmina na realização plena da liberdade nos estados constitucionais modernos, para Hegel (Napoleão encarna essa síntese); e para Adorno a crítica da razão que se escravizou ao buscar sempre e cada vez mais resultados.
    Quando se fala sobre "o" tempo, é enquanto fluxo, matéria na qual a existência se dá. Não tem nada a ver com a barbárie, da qual, a história de fato se alimenta.

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