quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sobre Ets e bactérias gulosas

Semana passada foi noticiado amplamente e com certo estardalhaço, que cientistas da Nasa fizeram uma descoberta extraordinária. Um tipo de bactéria retirada de um lago supersalgado, o lago Mono, situado na California, quando "alimentada", digamos assim, por arsênico, elemento próximo do fósforo e letal, ao invés de morrer, sobreviveu.
Talvez não fosse uma bactéria com tendências suicidas!
Ironia à parte, esse experimento levou a uma conclusão no mínimo curiosa. A de que a vida pode sobreviver em condições que nunca antes foram observadas. Apenas certos elementos químicos são responsáveis pela vida, tal como a conhecemos: oxigênio, hidrogênio, carbono, fósforo, enxofre, nitrogênio. O arsênico, substituindo o fósforo na composição química daquela bactéria, fez pensar que há vida tal como não a conhecemos.
Há duas premissas no raciocínio, que são corretas:
- Vida se compõe de 6 elementos químicos, invariavelmente.
- Ora, uma bactéria sobreviveu com um elemento químico diverso, arsênico.
Mas a conclusão não se depreende dessas premissas:
- Logo, há outras formas de vida no universo.
E essa conclusão foi proclamada como prova de que há vida, de que há sim ETs!
Mas atenção, vida como nós a conhecemos não significa que vida como não a conhecemos seja a prova da existência de seres extraterrestres.
Apenas amplia as possibilidades de formas elementares de seres vivos deste planeta, a Terra.
Condições para haver vida em outros planetas, na infinidade e na misteriosa expansão do universo, pode-se tanto apostar que sim, como que não!
Em geral quem defende a hipótese de vida fora da Terra, entende que se trata da vida inteligente, o que é, no mínimo uma extrapolação, uma projeção, a meu ver absurda, de nossas formas de vida.
A diferença estaria na cor, esverdeada; nas orelhas, pontudas; nos dedos, finos e compridos; nas cabeças, cônicas, etc. Mas pensam e falam!
É sempre uma projeção esquisita de nossas espécies, em particular a humana, mas também de alguns animais, como leões, formigas, cães e gatos... Não me lembro de nenhum filme de ficção que em que a criatura de outro planeta seja semelhante a hipopótamo, acho que eles são já estranhos demais para nós mesmos.
Enfim, o que a ciência pode demonstrar depende de pesquisa, de teorias, de hipóteses. Nossa atual teoria é a darwiniana, da evolução. Para haver evolução várias condições concorreram, muitas aleatórias, gerações surgiram, outras desapareceram, o ambiente foi ora hostil, ora propício.
De modo que dificilmente essas mesmas condições se dariam fora de nosso planeta a ponto de surgir vida, mesmo a da bactéria "gulosa", como a do lago salgado.
Além disso, há nosso modo único, humano, de criar, de se comunicar, de usar um vocabulário e conceitos, de haver um tipo de cultura investigadora, como é a cultura ocidental, desde há alguns séculos. Exemplo, a própria Química, com suas descobertas, leis, teorias, experimentos.
É tudo humano. É humana também essa noção de expandir a curiosidade para outros mundos, de imaginar que há seres inteligentes, mas inteligência é mais um desses modos pelos quais caracterizamos e atribuimos, a nós mesmos, certas capacidades.
Essa é uma posição cética, dirão alguns. Melhor assim... Mas se alguém quiser apostar em crenças ingênuas, até mesmo muito divertidas, o melhor mesmo é o Et de Varginha...

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